São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Novos fundos vão render bem menos do que o CDB

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os novos fundos de investimento, criados pelo governo para promover um alongamento dos prazos das aplicações, renderão menos do que os CDBs de 30 dias.
Alexandre Zakia, do BBA Creditanstalt, elogia a maior liberdade para composição das carteiras, a transição tranquila e a maior transparência de informações para os cotistas, mas diz que ``os fundos ficaram menos competitivos".
``Os investidores saíram prejudicados", resume Fábio de Oliveira, do Banco de Boston.
A razão é simples: o BC, para induzir a um alongamento, instituiu um depósito compulsório sobre os novos fundos.
Nos novos fundos de curto prazo, o compulsório é de 35% -a proposta original do governo, que os bancos conseguiram modificar, era de 50%. Ou seja, de cada R$ 100 aplicados no fundo, R$ 35 ficarão obrigatoriamente depositados no BC, sem rendimento.
No fundo de carteira livre de 30 dias, o compulsório é de 10%; no de 60, 5%; e no de 90 dias, 0%.
Na prática, explica David Gotlib, da Linear, o novo fundo de 30 dias vai render ao ano o equivalente a um CDB menos 5%.
Por isso, diz Gotlib, a partir de outubro ``boa parte dos investidores vai abandonar os fundos". Os grandes migrarão para CDBs e os pequenos para a poupança.
``É o que vai acontecer", concorda Antônio Pavão, do Bradesco, surpreso com o compulsório.
Júlio Araújo, do BCN, estima uma perda de 50% das aplicações em fundos.``Estamos na contramão. Em todo mundo os fundos de aplicação estão crescendo e, no Brasil, vão diminuir."
Mas, ao utilizar o compulsório e não o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para induzir o processo de alongamento, o governo criou, além da queda da rentabilidade, mais uma distorção.
O investidor é obrigado a saber, a priori, se vai precisar do dinheiro depois de 30, 60 ou 90 dias. É que se aplicar o dinheiro em um fundo de 30, o compulsório de 10% vai incidir, fique o dinheiro aplicado 30 ou 90 dias.
``É como se o juiz chegasse para os jogadores e, antes do início da partida, perguntasse quem tinha a intenção de cometer uma falta violenta e já aplicasse o cartão amarelo", compara Gotlib.
A Folha apurou que o BC preferiu o compulsório porque o dinheiro fica parado no BC. No caso do IOF, entraria no caixa do Tesouro -e poderia ser gasto.

LEIA MAIS
sobre os fundos nas págs. 2-9 e 2-10

Texto Anterior: Com a palavra o Banco Central
Próximo Texto: BC reprime especulação com dólar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.