São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Astronautas perdem noção do que está em cima ou embaixo

PAULO FERNANDO SILVESTRE JR.
DA REPORTAGEM LOCAL

A permanência prolongada em uma situação de microgravidade pode provocar várias disfunções no organismo de uma pessoa.
"Sem a gravidade, a pessoa não tem que fazer força contra nenhuma resistência", explica Thaís Russomano.
Como consequência direta, os músculos se atrofiam e ocorre uma diminuição do cálcio dos ossos, em um processo conhecido por desmineralização óssea.
"Acredita-se que a perda da massa muscular e do cálcio ósseo se dêem indefinidamente, ou seja, quanto mais tempo a pessoa permanecer no espaço, mais ela vai `perder' osso e músculo", diz a pesquisadora.
Mas os problemas não se resumem a isso. "O sangue, que basicamente se localiza na parte inferior do nosso corpo, vai para a parte superior. Isso causa uma série de alterações na pressão, no tamanho do coração (que fica ligeiramente menor) e no funcionamento básico do sistema cardiovascular", explica Russomano.
Em cinco dias, o sistema se adapta ao novo ambiente e permanece assim por pelo menos um ano. "É o tempo que os russos já ficaram no espaço", diz ela.
Os astronautas também perdem os referenciais sobre o que é direita, esquerda, em cima ou embaixo.
Isso acontece porque o aparelho vestibular, que fica dentro dos ouvidos e serve para manter o equilíbrio, se adapta em três dias à falta de gravidade no espaço -e consequente possibilidade de a pessoa flutuar, "livre" do chão.
"No início da conquista espacial, achava-se que as pessoas não suportariam ficar um mês no espaço", diz Russomano.
"Tanto é assim que as primeiras missões eram de horas, depois passaram para dias, para semanas. Hoje os russos, que têm uma filosofia em termos de conquista do espaço diferente da dos EUA, mantêm um recorde de mais de 400 dias no espaço", diz.
Várias medidas são tomadas pelos astronautas para minimizar esses problemas (leia texto ao lado). Mesmo assim, as pessoas que permanecem longos períodos em ambiente de microgravidade têm que passar por um período de readaptação na Terra.
Os cosmonautas russos normalmente são retirados em cadeiras de suas naves, quando elas aterrissam. O motivo disso é simples: a longa permanência no espaço desacostumou suas pernas a suportar o próprio peso do corpo.
Além disso, eles normalmente desmaiam durante a aterrissagem, pois, sob a ação da gravidade, o sangue volta para a parte inferior do corpo e o sistema cardiovascular não consegue se adaptar com rapidez suficiente para oxigenar o cérebro regularmente.
Essa situação foi observada durante o estudo do King's College. Dos três voluntários já estudados, um desmaiou, o outro "quase desmaiou" e o terceiro não relatou desconfortos aos pesquisadores, apesar de ter seus padrões cardíacos alterados.
Segundo Russomano, "há uma variação individual a esse estresse de quase oito horas". Os motivos variam de diferenças na musculatura das pernas a respostas dos vasos sanguíneos ali localizados aos comandos dos receptores de pressão, que ficam no pescoço.

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