São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Balbos lembram ex-empregado

HUMBERTO SACCOMANDI
DO ENVIADO A RIBEIRÃO PRETO

O usineiro Menesis Balbo, 68, tinha motivos de sobra para estar contente ontem.
Além de o Palmeiras ter conseguido empatar a partida ao final, o gol palmeirense foi marcado por Nílson, ex-funcionário de sua usina.
``Ele foi criado e começou a jogar bola aqui. Jogamos muito juntos", disse Balbo, cujo principal passatempo é justamente o futebol.
Todos os sábados há uma partida entre os membros da família Balbo e funcionários da Usina Santo Antonio.
Descendente de italianos, ele gosta de dizer que é parente do jogador Balbo, da seleção argentina.
Como usineiro, não condiz com a imagem típica de coronel do interior. Começou pobre e é respeitado pelos colegas usineiros e pelos sindicalistas da região.
Vestindo uma camisa do Palestra Itália, Balbo recebeu a Folha junto à quadra de bocha, no pequeno clube ao lado da área residencial da usina, onde mora com vários parentes.
Ao final, pediu para que tocassem a fita com o hino do Palmeiras.
(HuSa)

Folha - O Nílson então era jogador seu?
Menesis Balbo - Sim, ele é de Sertãozinho e foi criado aqui na usina. Era funcionário da empresa e jogava bola conosco.
Depois teve sucesso e acabou indo para clubes grandes. Quando ele foi estrear no Internacional, pagamos a passagem para os pais dele irem assistir.
Folha - O sr. é um fanático por futebol?
Balbo - Há dois meses tive de fazer uma operação de catarata. A primeira coisa que perguntei ao médico foi quando poderia jogar novamente
Ele não sabia, pois só quem tem catarata são bebês e velhos, que normalmente não jogam futebol.
Folha - O sr. não passa a imagem do usineiro estilo coronel do interior?
Balbo - Isso é coisa do passado e do Nordeste. Não vou dizer que todos os usineiros paulistas sejam honestos, pois não são, mas isso aqui é uma empresa e tem que administrado de modo moderno.
Estamos até tentando o certificado ISO 9000.
Folha - Mas a situação dos trabalhadores rurais está longe de ser ISO 9000?
Balbo - É claro que o salário é baixo. Eu sei disso, porque fui cortador de cana, comecei de baixo, sei o quanto é duro esse trabalho.
Mas a produtividade também é baixa. Eu gostaria que os filhos dos meus empregados estivessem na escola, estudando, para aprender a construir e operar máquinas que serão usadas na lavoura. Mas o governo se omite nisso, com o dinheiro dos nossos impostos.
Folha - Os usineiros são realmente favorecidos pelo governo?
Balbo - O preço do álcool está defasado em mais de 30% desde o Plano real. Tivemos dois aumentos de 6% que não bastaram para repor o aumento dos custos. Com essa política, o governo está subsidiando o consumo, não os usineiros.
Além disso, o Rio de Janeiro concedeu diversos benefícios para que a Volks instalasse lá uma fábrica que vai empregar diretamente 1.500 funcionários. Nós aqui empregamos mais de 3 mil, e não temos benefícios, pelo contrário.
Folha - Quem ganha o Campeonato Paulista?
Balbo - O Palmeiras. O time foi melhor que o Corinthians, perdeu um pênalti, saiu perdendo, mas teve forças para empatar. Isso dá moral. Além disso, não gosto dessa vantagem de jogar pelo empate.

Texto Anterior: Andrade economizam pela TV
Próximo Texto: Como torcer com arte na decisão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.