São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
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Fujimori negocia acordo com o Sendero

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

O governo do Peru está negociando com o principal líder do Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, a rendição dos integrantes daquele grupo guerrilheiro que continuam em atividade.
A informação foi dada anteontem pelo próprio presidente do Peru, Alberto Fujimori, na sua primeira entrevista após assumir seu segundo mandato presidencial.
O Sendero Luminoso é o grupo guerrilheiro mais radical da América Latina. Após a prisão de Guzmán, em outubro de 1992, o grupo se enfraqueceu e se dividiu. Surgiu uma nova facção, chamada Sendero Rojo (Trilha Vermelha).
Seu principal comandante chama-se Oscar Ramírez Durand, conhecido por ``camarada Feliciano". Os principais focos do Sendero Rojo estão localizados na região da Amazônia peruana, próxima ao Brasil. Durand escapou de vários cercos do Exército.
Para o governo peruano, são de responsabilidade do Sendero Rojo os últimas atentados terroristas no país. Só nos últimos 15 dias houve dois ataques a alvos militares -morreram 25 pessoas.
Apesar da divisão do Sendero, Guzmán continua exercendo forte influência sobre os guerrilheiros dissidentes. O governo do Peru acredita que ele possa convencer seus antigos companheiros a abandonar a luta armada. Guzmán foi condenado à prisão perpétua.
Fujimori não revelou quem está mantendo os contatos diretos com Guzmán nem a contrapartida oferecida aos guerrilheiros. Negou que pretenda anistiar os senderistas e disse que os contatos com Guzmán são feitos por um agente do Serviço de Inteligência.
A guerra entre os militares peruanos e o Sendero Luminoso foi a mais sangrenta de todos os movimentos guerrilheiros na América Latina. Segundo o governo, 30 mil pessoas foram mortas.
Há ainda milhares de feridos e mutilados, 100 mil órfãos e mais de 600 mil pessoas que fugiram das áreas mais atingidas pela guerrilha. Em seu discurso de posse, Fujimori pediu um minuto de silêncio em memória dos mortos.
Embora negue que pretenda dar anistia aos senderistas, Fujimori vem acenando nessa direção. Em sua posse, disse ser este o ``momento de esquecer o passado".
``Honremos a memória de todos os nossos mortos porque, equivocados ou não, são peruanos", disse. Para Fujimori, a paz é fundamental para o futuro do Peru. ``Não olhemos para trás, mas sim para a frente", declarou.

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