São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
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Rio e São Paulo

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - O Rio está prestes a concluir seu Plano Estratégico. É o primeiro no Brasil.
O projeto é inspirado na experiência bem-sucedida de Barcelona e tem dois objetivos básicos: tornar a economia da cidade competitiva e garantir, simultaneamente, qualidade de vida.
Ao contrário dos Planos Diretores oficiais e das dezenas de planos urbanísticos que dependem da vontade e da ação dos governos e nunca saem do papel, o Plano Estratégico se baseia na participação voluntária da população, de instituições públicas e de empresas.
O plano começou a ser elaborado em novembro de 93 e estará à disposição dos cariocas dia 11 de setembro.
Ao longo desta semana, os 305 membros de um Conselho da Cidade estarão avaliando e hierarquizando 322 projetos preparados por um Conselho Diretor presidido por Rodrigo Lopes com a ajuda de grupos técnicos.
Embora tenha o apoio dos governos municipal e estadual, é um plano que não depende deles para ser tocado.
O Rio viveu um longuíssimo período de involução econômica. Assistiu, durante a primeira metade do século, a inexorável mudança do pólo econômico para São Paulo.
Na década de 60, perdeu a hegemonia política. A ida da capital da República para Brasília também teve reflexos econômicos e psicólogicos.
Em 74, a maior das violências: a fusão compulsória da cidade com o antigo Estado do Rio fragilizou ainda mais sua economia e sua identidade.
Poucos Estados sofreram, nos anos 70 e 80, uma sucessão de governos tão ruins administrativamente e descompromissados com o seu futuro como o Rio.
A década de 90 tem sido a da reação. Vários movimentos surgiram com o objetivo de recuperar a cidade. O Plano Estratégico é a soma desses esforços.
O Rio não é a única cidade em crise. A diferença, neste momento, entre ela e São Paulo é a percepção dessa crise.
São Paulo ainda não percebeu que seus indicadores de violência e miséria crescentes configuram uma situação grave e exigem ação imediata que impeça a degeneração que o Rio viveu.
O Rio custou a acreditar que estava em crise e só reagiu, tarde, a partir da década de 80, quando ela explodiu de forma incontrolada. São Paulo, por ter suas favelas e bairros miseráveis nas periferias, talvez demore para acordar.

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