São Paulo, terça-feira, 1 de agosto de 1995
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Receita para aumentar o lucro no leite

SEBASTIÃO TEIXEIRA GOMES

Para aumentar o lucro, a receita já é antiga. Deve-se aumentar a renda bruta ou reduzir o custo de produção, ou ainda a combinação dos dois fatores.
Por definição, a renda bruta é igual à quantidade produzida multiplicada pelo preço do produto. O custo de produção é igual à quantidade de insumos e serviços multiplicada por seus preços.
A partir destes elementos, outro conceito antigo diz que o lucro depende da relação entre a quantidade produzida e as quantidades de insumos e serviços (produtividade), e da relação entre o preço do produto e os preços de insumos e serviços (termos de troca).
Tudo isto é verdade, mas não o bastante para explicar se a atividade leiteira é, ou não, um bom negócio.
O objetivo deste artigo é analisar este tema.
Recentemente, realizei duas pesquisas sobre economia leiteira, com dados coletados junto a produtores localizados na Zona da Mata do Estado de Minas Gerais.
A primeira pesquisa buscou responder a seguinte pergunta: o custo de produção por litro de leite aumenta ou diminui com o aumento da produtividade do rebanho?
A segunda pesquisa objetivou responder a duas perguntas:
1- O custo de produção por litro de leite reduz com o aumento da produção da empresa?
2- Qual o volume de produção da empresa de menor custo por litro?
Na linguagem dos economistas, os objetivos da segunda pesquisa podem ser entendidos assim: há economia de escala na produção de leite? Qual o tamanho ótimo?
Os resultados de ambas as pesquisas estão resumidos na tabela acima.
De acordo com os dados desta tabela, o custo de produção por litro de leite reduz significativamente com o aumento da produtividade das vacas ordenhadas.
Tudo o mais permanecendo constante, o produtor aumenta seu lucro com o crescimento da produtividade.
Quanto aos resultados da segunda pesquisa, foi comprovada a existência de economia de escala na produção de leite.
A redução do custo de produção por litro de leite, com o aumento do tamanho (maior produção da empresa), decorre, principalmente, da redução do custo fixo por litro.
É fácil entender que o mesmo homem que administra a produção de cem litros de leite por dia é capaz de administrar 500 litros, com redução, nesse exemplo, de 80% do custo por litro.
Com o aumento da produção, reduz-se a participação do custo fixo por litro no custo total.
Em média, nas empresas que produzem em torno de 50 litros por dia, os custos fixos representam entre 40% e 50% do custo total.
Nas empresas que produzem em torno de 600 litros por dia, os custos fixos representam apenas entre 20% e 25% do custo total.
Comprovada a existência de economia de escala, o passo seguinte é determinar o tamanho ótimo, ou seja, o tamanho de mínimo custo de produção por litro ou de máximo lucro.
Os resultados da pesquisa indicaram que o tamanho ótimo está atrelado à produtividade, isto é, quanto maior a produtividade, maior o tamanho ótimo.
A combinação dos dados da tabela leva a uma conclusão muito importante para o produtor.
Os aumentos de produtividade são condição necessária, mas não suficiente, para garantir que a atividade leiteira seja um bom negócio.
É preciso associar o aumento da produtividade do rebanho ao aumento da produção da empresa.
No mundo inteiro, o leite é uma atividade com pequena margem de ganho por litro, por isto é essencial para a atratividade do negócio operar com elevada escala de produção.
Os dados apresentados são válidos para a região em estudo, os quais, com certeza, são diferentes dos de outras regiões, embora as conclusões sejam as mesmas.
Existem, no Brasil, algumas empresas com produtividade em torno de 20 litros por vaca ordenhada por dia, cujos proprietários não estão satisfeitos com a rentabilidade da exploração.
Na maioria das vezes, o problema é o pequeno volume de produção da empresa em relação à produtividade do rebanho.
Os argumentos apresentados anteriormente, quando expandidos para o país, são preocupantes, em face da abertura da economia para o mercado internacional e da realidade brasileira, com média de produção por estabelecimento de apenas 27 litros de leite por dia.
Em outras palavras, para suportar a pesada competição do mercado internacional, além de aumentar a produtividade do rebanho, deve-se também aumentar, e muito, o tamanho da atividade leiteira.

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