São Paulo, terça-feira, 1 de agosto de 1995
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Empresários pedem fim do compulsório

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de dez entidades empresariais reuniu-se ontem em São Paulo para pedir o fim dos depósitos compulsórios que os bancos fazem quando os clientes colocam dinheiro em suas contas-correntes.
Toda vez que alguém deposita um cheque ou dinheiro em uma conta bancária, o banco envia compulsoriamente 83% do valor para o Banco Central. Isso é o que se chama depósito compulsório.
Esses 83% dos depósitos que os bancos enviam para o BC não são remunerados. Isso encarece o custo do dinheiro -os bancos cobram mais para dar empréstimos.
Para os empresários reunidos ontem na Federação do Comércio do Estado de São Paulo, a eliminação do depósito compulsório estimularia a produção no país.
``Para mim, os juros poderiam até ficar no atual patamar, desde que o compulsório terminasse", disse o presidente da Federação do Comércio, Abram Szajman.
Os empresários ficaram reunidos ontem das 15h10 às 17h08. A reunião foi fechada. Todos os participantes já haviam criticado em outras ocasiões o juro alto.
Ontem, entretanto, foi a primeira vez que tantos empresários -da indústria, comércio, agricultura e setor financeiro- estiveram reunidos para criticar o juro alto.
Ao final da reunião, foi divulgada uma ``nota para a imprensa". Com 16 linhas datilografadas, o documento classifica o juro praticado no país de ``insuportável".
Segundo o documento, os juros altos ``subvertem a ordem econômica, levando à inadimplência e à insolvência as pessoas físicas e jurídicas e destroem a competitividade interna e externa".
Para exemplificar os ``efeitos perversos" dos juros ``escorchantes", foram divulgados ontem os números de empresas que pediram falência na cidade de São Paulo em julho: 1.032.
Isso representa um aumento de 30% sobre junho e 228,7% sobre julho do ano passado.
Os empresários reconhecem no documento que os juros são um instrumento para conter o nível do consumo -que o governo pretende reduzir-, mas ``não podem ser tão elevados".
``A nação aguarda que o governo comece, de imediato, a reduzir os custos financeiros e elimine o depósito compulsório sobre os empréstimos, assegurando a volta da esperança".
Ontem, a Folha publicou reportagem com pesquisa da Fundação Getúlio Vargas apontado o Brasil como o país com o maior juro anual real (acima da inflação) do planeta (28%). Em segundo lugar ficou a Argentina, com 12,45%.
Como o documento dos empresários não especifica qual seria a redução que eles consideram satisfatória para os juros, a Folha perguntou para alguns dos participantes de quanto deveria ser o corte nas taxas.
``Pelo menos, para ser competitivo no Mercosul, o juro deveria ser aqui igual ao da Argentina", disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Mário Amato.
O presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, Álvaro Augusto Vidigal, concordou com Amato. ``Inflação mais 12% ao ano eu acho que é razoável", afirmou.

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