São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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Turismo também enfrenta calotes

GRAZIELE DO VAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A inadimplência recorde no setor de turismo está fazendo com que administradoras de cartões de crédito e companhias aéreas deixem de financiar passagens e pacotes de viagens.
Um estudo feito pela Associação Brasileira de Agentes de Viagens mostra que o índice de pagamentos em atraso chegou a 5%, nos últimos três meses. Historicamente, não passava de 1%.
Na Vasp, assim que o percentual de inadimplentes bateu na casa dos 20%, foi suspensa a venda de bilhetes pelo crediário próprio. Há dez dias, a empresa parou de parcelar passagens em até dez vezes, a juros de 4% ao mês.
Como precaução, a Varig optou por reforçar as garantias exigidas das agências credenciadas para a venda de bilhetes.
Segundo Roberto Namindomi, gerente da empresa, os pagamentos em atraso de passagens comercializadas pelo crediário próprio, também de 1%, subiram a 12%.
Apesar de não divulgar números, a American Express admite que interrompeu temporariamente o financiamento de pacotes turísticos em dólar (parcelados em até dez vezes) neste mês por causa do alto índice de inadimplentes.
Segundo sua assessoria, esse tipo de financiamento foi considerado um ``produto de risco".
No American Express Card, a renda mínima exigida passou de R$ 2 mil para R$ 7 mil.
A Credicard deixou de operar com agências através do Credi-Dólar (que permitia o parcelamento de pacotes turísticos internacionais em até 21 prestações), restringindo o produto às operadoras credenciadas.
``A maioria dos inadimplentes viaja por impulso, para o Caribe e para os EUA. O turista que prefere a Europa, ao contrário, programa anos antes o passeio e paga em dia", diz Raimundo Cassulino, sócio da operadora Rex Tour, que atende em média 1.300 agências.
Calcula-se que 250 mil brasileiros embarquem para o exterior neste mês.
``As agências que parcelavam o pagamento em até três vezes ou vendiam bilhetes para grandes empresas foram bastante atingidas pela crise no crédito", diz Leonel Rossi Júnior, presidente da Abav.
Ronaldo Holanda da Costa, da Rear Viagens e Turismo, diz que o percentual de clientes em atraso chegou a 30%.
Antônio Aulísio, da Flot Operadores, vendia em três pagamentos. ``Agora só parcelo através do cartão, porque o risco passa a ser das administradoras", afirma.
Com o crescimento do calote, as administradoras de cartões também estão restringindo as operações junto às agências.
Na opinião de Raimundo Cassulino, sócio da Rex Tour, essa é a pior crise da história do setor. Diz que, em 21 anos no mercado, nunca viu nada igual.

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