São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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Sensor palestrino está ligado no Corinthians

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Na noite de segunda, toca o telefone. É Pedro Ernesto, da Rádio Gaúcha, aflito, querendo saber se o Grêmio será recebido a paus e pedras aqui na velha província. Disse-lhe o que penso: da mesma forma que até a torcida gremista perdera a esperança de ganhar no Olímpico do Palmeiras, naquela fatídica noite de quarta-feira, os palestrinos, por aqui, estão com todos os seus sensores ligados na decisão doméstica com o Corinthians.
Pode ser que houvesse alguma hostilidade contra o goleiro Danrlei, se tanto, pelo seu gesto covarde de agredir Válber pelas costas, quando do entrevero, como gostam os argentinos, com Dinho. Mas ele acabou sendo suspenso do jogo.
Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, diz a sabedoria popular, embora a ciência possa até negar o antigo provérbio. Portanto, ninguém, em seu juízo normal, espera que o Palmeiras consiga meter cinco gols no Grêmio, para, então, decidir nos pênaltis. Logo, se não há expectativa, não pode haver tensão.
Que o Palmeiras, time por time, incluindo o banco, é muito superior ao Grêmio é inquestionável. Capaz mesmo de golear essa recém-aberta asa negra, mas nunca nas atuais circunstâncias.
Por outro lado, há uma relação íntima entre o resultado do jogo desta noite, pela Libertadores, e a final de domingo, pelo Paulistão. Uma vitória de gala do Palmeiras esta noite será poderosa alavanca moral para o jogo contra o Corinthians. Sobretudo, na esteira do empate de domingo passado. Ou melhor: da forma como o Palmeiras escapou da derrota, no último suspiro, depois de ter consagrado Ronaldo como o herói de Ribeirão. Aqueles 15, 20 minutos finais revelaram a força verde até mesmo para o mais desesperançado palestrino. Traduzindo: se o Palmeiras teve talento e energia para ganhar mesmo o primeiro jogo, o que impede de cumprir seu destino na partida decisiva?
E, quem sabe, além dos duendes, gnomos, fadas e capetas que se escondem sob cada pé de grama dos estádios, qual o destino reservado à caprichosa bola?

Entre tantas incertezas semeadas no gramado do Santa Cruz, domingo, uma velha certeza ainda mais se afirmou: a de que, nestes tempos de altíssima definição, a TV e todos os seus recursos tecnológicos não podem mais estar na contramão da arbitragem. Pouco mais de 40 mil pessoas, entre as quais o juiz, saíram do estádio em dúvida se foi pênalti de Mancuso em Souza, se o gol palmeirense foi de Nílson ou de André contra e se o juiz andou certo na anulação do gol de Viola. Em contrapartida, centenas de milhares de espectadores, segundos depois de cada lance, tiveram suas dúvidas esclarecidas. Por que, então, não oferecer ao árbitro esse instrumento de precisão como auxílio? Há mais de 20 anos faço essa pergunta, sem uma resposta convincente.
A mais comum (e a mais beócia) é a de que a beleza do futebol está exatamente na imperfeição da arbitragem, que gera polêmica, a chama da paixão por esse esporte. Para não voltar a Platão, fico com Sérgio Ricardo: feio não é bonito.

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