São Paulo, quinta-feira, 3 de agosto de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Festival rouba opereta de Viena
LUÍS ANTÔNIO GIRON
O Festival do Lago de Mõrbisch (Seesfestpiele Mõrbisch), na fronteira com a Hungria, fica a cada ano mais parecido com seu slogan: ``Meca da Opereta". O palco montado sobre o lago apresenta até 27 deste mês, de sexta a domingo, a opereta ``O Estudante Mendigo" (Der Bettelstudent), do compositor austríaco Karl Millcker. Esta quase peça de museu que fez sucesso em Viena em 1882 é a sensação da temporada de festivais de música da Europa Central. O anfiteatro do festival tem capacidade para 4,5 mil pessoas. Os ingressos estão esgotados até o fim do evento. ``O público cresce de ano a ano", orgulha-se o empresário lituano Harald Serafin, 60, diretor artístico e dono do festival. ``Em três anos de gestão, consegui tripicá-lo. Hoje recebo 90 mil pessoas por temporada." Criado em 1957 como uma versão leve do Festival de Bregenz -na fronteira oeste do país, em que o palco fica no lago-, o Festival de Mõrbisch ganhou reputação somente agora, com a montagem de ``O Estudante Mendigo". Os seis críticos de música da Áustria elogiaram a produção e a consideram superior ao nível das similares de Viena. O segredo do sucesso está na música fácil, trama folhetinesca, cenários e figurinos luxuosos, bons músicos e amplificação. O custo do evento, US$ 3,5 milhões, é bem menor do que o de seus rivais, Salzburgo e Bregenz. Aquele despende US$ 20 milhões anuais, enquanto Bregenz chega a USñ 15 milhões. ``Nossa vantagem é darmos lucro total", gaba-se Serafin. ``Somos o único festival austríaco em que metade do dinheiro vem da iniciativa privada." Leia-se o bolso do próprio Serafin. O empresário acha que em Viena os diretores perderam o pé da história e lhes falta imaginação. ``Já não sabem mais nem por que fazem operetas. Esqueceram-se de que se trata de um divertimento para o grande público, sem pretensões, um espetáculo precursor dos musicais da Broadway." Mas Mõrbisch não é Nova York. O lago faz a linha divisória entre Europa do Oeste e Leste e o estilo da montagem deste ano, a cargo de Qinfreid Bauerfein, é puro austro-húngaro. Sequências de czardas (dança cigana da Hungria) se combinam com valsas e mazurcas. A cena se passa em Cracóvia, em 1704. O governador local promove o casamento de um mendigo com uma princesa russa. Os dois se apaixonam, se separam e se reencontram em meio a árias e cançonetas ao gosto típico do século 19. No final, fogos de artifício e o anúncio da produção do ano que vem: ``O Morcego", de Johann Strauss Filho. Os insetos atacam o público durante as apresentações. ``Já disse mil vezes que não são mosquitos", explica Serafin. ``Não passam de inofensivos borrachudos, que dão uma picadinha e vão embora. Antes não apostavam um `groschen' (tostão austríaco) no festival. Agora até os borrachudos viraram gente importante. São destacados em todas as críticas." Texto Anterior: Hampson se consagra como astro do lied Próximo Texto: Divine Brown caiu de boca na bufunfa! Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |