São Paulo, sexta-feira, 4 de agosto de 1995
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Suspense

<UN->WILSON BALDINI JR.

WILSON BALDINI JR.
Há quase 50 meses afastado dos ringues, Mike Tyson (que lutou pela última vez no dia 28 de junho de 91 e venceu o canadense Donovan Razor Ruddock, por pontos) retorna em duas semanas.
Muitas questões estão sendo discutidas. Ele volta sendo o mesmo demolidor? Peter McNeeley, o primeiro adversário, passa do primeiro round? Tyson recupera em um futuro próximo o cinturão?
Mas, talvez, o principal seja saber como ele está física e tecnicamente. Engana-se aqueles que esperam ver o mesmo Tyson de 1988, nocauteando Michael Spinks em apenas 91 segundos, já no dia 19 próximo, em Las Vegas.
É evidente que McNeeley foi escolhido a dedo para não causar problemas para o ex-campeão em seu primeiro combate. Mas, mesmo assim, Mike Tyson deve apresentar algumas falhas.
Ele é um exemplo único entre os pesados. Com apenas 1,81 m de altura, o ex-pupilo de Cus D'Amato é escravo da preparação física.
Somente com os braços, pernas e cintura bastante rápidos e com os reflexos em ponto de bala para o pequenino do Brooklin ser páreo para os gigantes da atualidade.
Os menos avisados dizem que ele é um campeão sem técnica. Ignorância. Como Tyson pode lutar de maneira clássica, soltando jabs e circulando o adversário se sua envergadura (na maioria das vezes) é meio metro menor?
A informação de Carlos Blackwell, técnico de Tyson, de que ele ``está no peso" (100 quilos) é preocupante. O empresário-gângster Don King usou do mesmo artifício em 90, antes da luta para James Buster Douglas, na tentativa de encobrir a falta de preparação do lutador.
Resultado: derrota do campeão para o decadente Douglas. Torcemos para que isso não se repita.
Só assim Tyson seguirá no caminho da reconquista do título e repetir o feito de Muhammad Ali.
Aliás, o trabalho de Tyson será mais fácil.
Quando Ali retornou ao boxe em 1970, depois de ter seu título cassado por se recusar a lutar no Vietnã e impedido de lutar por três anos, o seu estilo foi alterado.
O africano Bundini, verdadeiro técnico de Ali e não o enganador Angelo Dundee, declarou que ele não estava preparado para os fortes e jovens George Foreman, Ken Norton e Joe Frazier, que superavam os decadentes Sonny Liston e Floyd Patterson, da década de 60.
Felizmente, o único que restou dessa inesquecível geração foi Foreman. Mas ele já é vovô.

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