São Paulo, sexta-feira, 4 de agosto de 1995
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Clinton promete restrição ao fumo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, prometeu ontem anunciar ``logo" sua decisão sobre novas restrições ao consumo de tabaco.
``O fumo entre menores de idade precisa diminuir e o governo tem responsabilidade nisso", afirmou o presidente.
Entre as possíveis medidas a serem adotadas, estão a exigência de prova de maioridade para venda de cigarros, a proibição de venda de cigarros nas imediações de escolas e limites à publicidade de fumo.
O porta-voz de Clinton, Mike McCurry, admite que o assunto provoca discussões mesmo na Casa Branca, em Washington, sede do governo dos Estados Unidos.
O vice-presidente Al Gore lidera o grupo que defende maior controle do governo sobre o fumo.
Uma irmã de Gore, Nancy, morreu de câncer pulmonar em 1984. Depois disso, Gore acabou com as plantações de tabaco que tinha em fazendas da família no Estado do Tennesse, sul do país.
Clinton, fumante ocasional de charutos, também é do sul dos EUA, região onde o tabaco é importante atividade econômica.
A decisão do presidente sobre o assunto pode ser anunciada na semana que vem, quando ele estiver no Estado da Carolina do Norte, também no sul.
O governador da Carolina do Norte, Jim Hunt, aliado de Clinton, é um dos líderes do lobby contra o aumento de restrições ao consumo de tabaco.
A indústria do fumo fatura nos EUA cerca de US$ 20 bilhões por ano e emprega quase 50 mil funcionários. O governador Hunt diz que, só em seu Estado, 200 mil pessoas dependem do tabaco.
Embora o número de fumantes nos EUA tenha diminuído desde os anos 60, ainda há 46 milhões deles, ou 25% da população, em especial mulheres e negros.
Mas na faixa dos 12 aos 19 anos, o hábito do fumo tem crescido desde 1980. Cerca de um terço dos adolescentes fumam ou mascam tabaco.
A campanha contra o fumo se intensificou desde meados de 1994, quando uma comissão especial do Congresso foi formada para investigar o assunto.
A Food and Drug Administration (FDA), agência do governo encarregada do controle de produtos alimentícios e drogas, reivindica o direito de regular o consumo de tabaco sob o argumento de que a nicotina é uma droga.
O presidente da comissão parlamentar, deputado Henry Waxman, apóia a idéia da FDA, assim como a maioria absoluta da população.
Mesmo nos Estados do sul, de acordo com todas as pesquisas de opinião pública, a maioria acha que o fumo deve ser controlado.
Apesar do apelo popular das medidas, Clinton vacila em adotá-las, devido ao poder do lobby da indústria do tabaco.
O ex-presidente Jimmy Carter disse ontem que sabe ``perfeitamente o que Clinton está passando" porque já sentiu ``a pressão excepcional que a indústria do tabaco exerce sobre um presidente".
Carter, também do sul dos EUA, foi a Washington como membro de uma comissão que procurou Clinton para exortá-lo a restringir mais a venda de fumo.
O lobby do tabaco é forte entre os parlamentares do partido de oposição, o Republicano, que controla o Congresso.
Qualquer medida de Clinton para regular a venda de fumo tem que ser aprovada pelo Congresso antes de entrar em vigor.
Líderes republicanos tentam obter da indústria um compromisso voluntário de diminuição de esforços de venda de fumo a menores.

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