São Paulo, sexta-feira, 4 de agosto de 1995
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O Barbeiro de Sevilha; O furacão e as enchentes; Danos morais; Neoliberalismo; Barulho infernal; Religião; Arrufos dos tartufos; Escola e cidadania

O Barbeiro de Sevilha
``Em junho do ano passado, prevíamos gastar R$ 930 mil com `O Barbeiro de Sevilha'. Gastamos pouco mais de R$ 700 mil, considerando os recursos obtidos com a bilheteria. Trouxemos artistas conhecidos e consagrados no mundo da ópera. Foram selecionados pelo maestro Isaac Karabtchevsky, diretor artístico do Teatro Municipal. Ganham cachês compatíveis com suas carreiras, sua experiência, sua competência, dentro das tabelas internacionais. Só podem ser contratados por meio de seus empresários. Aos cachês, somemos os impostos, pagos sempre com rigor e transparência pela Prefeitura de São Paulo. A ópera foi um grande sucesso de crítica e público. Aplausos unânimes. Casa cheia, em todas as oito récitas. Um espetáculo à altura de São Paulo, no seu espaço mais nobre. Um investimento que revela nosso carinho pela cidade. A reportagem da Folha (3/8) faz comparações impróprias. Compara cachês de gente inexperiente com cachês de artistas internacionalmente aclamados. Cita ainda como exemplo a ser seguido a ópera `Trittico', encenada no Municipal do Rio de Janeiro. Faltou pesquisa aí. Aquela ópera foi um grande fracasso de crítica e de público. Um fiasco que custou quase US$ 500 mil. Não nos serve como exemplo."
Rodolfo Konder, secretário municipal de Cultura (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Elvis Cesar Bonassa - Georgio Sebria, que cantou no Rio, fez carreira no Scala de Milão. No Rio foram contratados dois cantores por R$ 33 mil (R$ 20 mil de cachê para cinco récitas e R$ 13 mil para outros custos, como passagem, hospedagem, alimentação, impostos), e em São Paulo foram gastos, por exemplo, R$ 94 mil para o tenor Palácio (cachê de R$ 36 mil para quatro récitas e R$ 58 mil para outros custos de uma só pessoa). A desproporção é evidente.

O furacão e as enchentes
``Nelson de Sá escreveu em sua coluna `No Ar' de 2/8 o seguinte: `Miami, sob ameaça de um furacão, era mostrada ontem na televisão brasileira com maior atenção e familiaridade do que, por exemplo, as enchentes em Porto Alegre'. Como a Folha, que, em sua edição de 2/8, além de um grande destaque em sua Primeira Página para o furacão, deu duas páginas inteiras na sua seção Mundo. As enchentes em Porto Alegre viraram uma nota na mesma Folha."
Alberto Villas, editor-chefe do ``Jornal do SBT" (São Paulo, SP)

Danos morais
``A violência do ataque do governo Maluf à minha pessoa por meio de seu porta-voz Adilson Laranjeira, em artigos nesta Folha, mostra que tínhamos razão quando apontamos que não havia necessidade do último aumento das tarifas de ônibus e que teria ocorrido transferência de milhões de dólares para os donos daquelas empresas, além do devido. Esse senhor, como não tinha resposta aos números que apresentei, resolveu atacar moralmente a minha pessoa, apontando como ilegalidade prática regular e rotineira, nunca questionada pela Justiça, que vem sendo realizada pelo menos desde o prefeito Mário Covas e que permanece até hoje. No trabalho de conselheiro no Anhembi e na Prodam, para o qual fui convidado pela prefeita Luiza Erundina, nos reuníamos uma vez por mês, recebendo por isso ajuda de custo. Nesse caso não se tem vínculo empregatício, não se ocupa cargo público e não se recebe salário, diferentemente do que afirma o porta-voz. Para confundir ainda mais o leitor, esse senhor finge até desconhecer o art. 38, inciso 3º, da Constituição Federal, que permite expressamente a vereador o acúmulo de cargos. O que em momento algum foi o nosso caso. Os poderosos neste país sempre tentaram destruir aqueles que se colocam contra seus interesses. Reafirmo que não me intimidarão nem calarão. O sr. Maluf e companhia não me fazem medo, continuarei fiscalizando o seu governo, pois para isso fui eleito. A respeito do sr. Adilson Laranjeira, estou entrando na Justiça com queixa-crime contra honra e ação indenizatória por danos morais."
Odilon Guedes, vereador pelo PT-SP (São Paulo, SP)

Neoliberalismo
``O triunfo do neoliberalismo não foi suficiente para acalmar Roberto Campos em sua fúria contra os socialistas e, até de maneira inexplicável, contra alguns dos princípios mais básicos de bem-estar social, almejados até pelos mais convictos capitalistas. Estranho que ignore os graves problemas de educação e saúde por que passam algumas das mais prósperas economias capitalistas, com crescentes massas de cidadãos marginalizados dos efeitos reguladores do mercado."
Ricardo Fleury Lacerda (Nova York, EUA)

Barulho infernal
``Consternada, tomei conhecimento, pelo artigo da senadora Benedita da Silva sobre o funk no Rio, que os que são a favor da convivência amistosa entre classes e raças devem, para demonstrá-lo, suportar estoicamente o barulho infernal desse fenômeno que faz tremer nossas paredes a quilômetros de distância. E isso vale também para outra praga que assola o Rio de Janeiro: as seitas protestantes. Que direito têm esses pastores histéricos de penetrar em minha casa querendo me convencer de que Satanás mora em mim?"
Angela M. de Almeida (Rio de Janeiro, RJ)

Religião
``Muito sensato o artigo `Educação religiosa' do sr. Israel Isser Levin, publicado na Folha de 31/7. Querer introduzir o ensino religioso confessional nas escolas é muita pretensão. Se a medida for efetivada e todas as crenças reivindicarem igualdade de direitos, como ficará a escola pública?"
Roberto Augusto Torres Leme, presidente do Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

``Gostaria de reportar-me ao brilhante artigo do empresário Israel Isser Levin. Num país onde a Constituição garante a liberdade de credo, ter o ensino religioso obrigatório em escolas estaduais é no mínimo inconstitucional. Concordo que seria muito difícil dividir as crianças de uma classe, que podem ser católicas, judias, muçulmanas, protestantes. Por que o dono dessa idéia de implantar ensino religioso não planeja aumentar o número de vagas ou melhorar o salário dos professores? Religião é opção pessoal. Inalienável direito inscrito na Carta Magna."
Maria José O'Neill (São Paulo, SP)

Arrufos dos tartufos
``Como antigo leitor e assinante do jornal (25 anos), parabenizo Otavio Frias Filho pela orientação liberalizante em relação a tabus sociais, tais como sexualidade, nudez, aborto e outros, e o incentivo a persistir na orientação, malgrado os arrufos dos tartufos."
Paulo Sérgio Werneck (Taubaté, SP)

Escola e cidadania
``Na qualidade de um modesto professor de ensino fundamental, sinto-me assombrado toda vez que acompanho nos meios de comunicação as discussões em torno da educação, geralmente abordada por intelectuais e políticos. Raramente, para não dizer nunca, se discute a relação intrínseca que há entre cidadania e escola. Cidadania não se ganha, se constrói. O nosso povo precisa aprender a usar seu direito à cidadania, e isso se adquire desde cedo, na vivência escolar, junto a professores conscientes de seu papel político. Falar em escola sem tocar no drama do professor é cinismo. Investir no professor é dar-lhe existência, reciclagem, sobretudo de formação política -sempre no significado científico."
Divanil Ferreira Neves (São Paulo, SP)

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