São Paulo, sábado, 5 de agosto de 1995
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Estudante é baleada na cabeça por tenente

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A estudante Valdirene Francisco Alves, 19, foi atingida ontem, às 11h30, na cabeça por um tiro disparado pela metralhadora que estava nas mãos do tenente Claudio Geromim Valente, 29, da 1ª Companhia do 12º Batalhão da PM.
O fato aconteceu na rua Lacônia, no Brooklin (zona sul). Há duas versões para o caso.
Ambas são iguais no início: o tenente e outros três policiais militares teriam visto o adolescente A.S.F., 16, próximo de uma favela e decidiram abordá-lo por considerá-lo ``suspeito".
A versão da acusação contra o tenente é de que ele teria começado a espancar o adolescente. A.S.F. disse, ao depor, no 27º DP que o disparo ocorreu quando o tenente desferiu uma coronhada com a arma em direção à sua cabeça.
O adolescente afirmou que se esquivou e que a arma atingiu seu ombro, disparando. A estudante, que estaria assistindo a cena do portão de sua casa, foi atingida.
A metralhadora que o oficial carregava é uma Beretta calibre 9 milímetros. Ela possui duas travas de segurança para impedir disparos acidentais.
Caso não tenha defeito, esse tipo de arma só dispara após as duas travas serem soltas ou se o portador deixar uma bala na agulha (posição de disparo por meio de um leve toque do dedo no gatilho).
A estudante foi levada pelos próprios PMs ao Hospital do Jabaquara. Seu estado de saúde era considerado gravíssimo pelos médicos até as 22h de ontem.
A PM só apresentou o oficial ao 27º DP seis horas e meia após o fato. O tenente negou a agressão a A.S.F. e disse que estava revistando o adolescente quando a metralhadora disparou por ``acidente".
O delegado Eduardo de Camargo Lima resolveu autuá-lo em flagrante sob a acusação de lesão corporal culposa (quando não há a intenção de ferir). O tenente deveria pagar R$ 60 de fiança para responder ao inquérito em liberdade.
A metralhadora não foi levada pela PM à delegacia. O comando do 12º Batalhão teria se comprometido em mandar a arma para o Instituto de Criminalística, que deverá examiná-la a fim de saber se o disparo foi acidental.

IPM
Além do inquérito aberto pela delegacia, o comando do 12º Batalhão instaurou um IPM (Inquérito Policial Militar) sobre o caso.
Depois de sair do 27º DP, o tenente deveria depor ainda ontem à noite no IPM. Segundo Lemes, será investigado se o acusado agiu com imprudência e negligência ao abordar o adolescente.
As testemunhas do caso também serão ouvidas no IPM. O coronel disse que, caso seja provado a acusação, o oficial será punido.

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