São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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ONU quer que Brasil aceite 5 mil refugiados

VICTOR AGOSTINHO; BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro começou negociações com a ONU (Organização das Nações Unidas) para receber 5.000 refugiados da guerra na ex-Iugoslávia.
O primeiro contato do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) com autoridades brasileiras foi feito na semana passada em Genebra, Suíça, com Celso Lafer, chefe da missão diplomática do Brasil na cidade.
No documento enviado à missão brasileira, a ONU estima que ``em breve" cerca de 55 mil ex-iugoslavos vão passar à condição de refugiados de guerra.
A avaliação das Nações Unidas é que imediatamente 5.000 ex-iugoslavos precisam deixar a região ou serão mortos. Com o desenvolvimento do conflito, outros 50 mil seguirão o mesmo caminho.
Vivem no Brasil hoje cerca de 2.000 refugiados, africanos em sua maioria.
Ele afirma ser ``uma pessoa muito sensível à questão" e que está ``transmitindo essa sensibilidade ao governo brasileiro". Lafer já comunicou o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) dos contatos que vem mantendo com a ONU e acredita que ``num prazo razoável" o governo brasileiro dará sua resposta.
``É muito delicado. É claro que somos um país com problemas de desigualdades sociais e que nossa capacidade de absorção tem limites, mas acredito que o Brasil vá mostrar sua solidariedade. O pedido da ONU vai ter que ser discutido internamente com os governadores dos Estados brasileiros", disse Lafer.
Milton Rondó Filho, 35, subchefe da Divisão das Nações Unidas do Itamaraty, confirmou o recebimento do relatório de Lafer. ``Estamos tentando ver com os melhores olhos possíveis", disse.
Segundo Rondó Filho, as consultas informais aos Estados já começaram. Além disso, o documento está sendo encaminhado à Comissão Nacional de Imigração, órgão do Ministério do Trabalho, que dará um parecer.
O parecer é importante porque o ministério é que vai avaliar a possibilidade de inserção dos refugiados no mercado de trabalho. O perfil profissional das 5.000 pessoas não foi detalhado pela ONU.
``Neste momento, o que importa não é o perfil profissional desse contingente. É uma questão de vida ou morte para essas pessoas, e a decisão deve sair em breve", afirmou Rondó Filho.
Caberá ao presidente Fernando Henrique Cardoso decidir sobre a vinda dos ex-iugoslavos.

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Sobre a vinda dos refugiados e como vivem os que já moram no país na pág. 2

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