São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Repetirá o Palmeiras a atuação de quarta?

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A pergunta que certamente atormenta o amante do futebol é por que um time como o Palmeiras, com a tradição do Palmeiras, com o elenco do Palmeiras, com a estrutura do Palmeiras, não joga, senão sempre, pelo menos vez ou outra com o empenho, o desprendimento e o talento demonstrados na inesquecível noite da última quarta-feira?
Não é preciso ser palmeirense para cair de paixão por um time capaz de realizar a façanha de meter cinco gols no Grêmio, num jogo sem sobressaltos, sem expulsões, brigas ou quizumbas. Apenas, movido pelo coração, atacar, atacar e atacar um time experimentado nas artes das defesas marciais como o Grêmio.
Mas atacar com classe, categoria, juízo, mesmo levando um gol desmoralizante pela singeleza de seu desenho.
Meu querido amigo, calejadíssimo e frio analista Sérgio Noronha, na sua coluna do ``Jornal do Brasil", confessou que foram os cinco minutos finais de um dos jogos mais eletrizantes que viu na sua vida, longa e bem vivida, diga-se.
Cá entre nós, ouso supor que muitos corintianos vestiram-se de verde naqueles momentos em que o impossível esteve vivo, concreto, ao alcance de um gesto mais feliz dos palmeirenses. Menos pela impossibilidade que se tornava plausível, mas muito mais pela forma como o time estava virando a lógica de cabeça pra baixo. Isto é, praticando um futebol belíssimo, sob o comando desse argentino extraordinário chamado Mancuso.
E aqui entra um repórter de ``O Globo", ligando pra minha casa. Queria saber qual o meu melhor ataque do mundo. Incauto, respondi que era a linha do Ajax, com seus crioulos e brancos maravilhosos, nigerianos e holandeses. Era véspera da estréia de Edmundo no Flamengo, e certamente frustrei-lhe, sem querer, posto que esperava que eu dissesse: Edmundo, Romário e Sávio. A verdade é que esse ataque ainda não existe.
Ou, pelo menos, não pudemos vê-lo em ação. O que existe, o que está gravado em teipe e na memória dos que assistiram aos últimos jogos do Ajax e a goleada palestrina, é a certeza de que, sem essa determinação anímica, não há ataque que entre para a história do futebol.
No fundo, não há ataque, simplesmente. A diferença é que o Palmeiras jogou assim, premido por circunstâncias muito especiais, enquanto o Ajax joga assim, em quaisquer circunstâncias.
Sei que estou dando voltas para não chegar ao centro da questão. E a questão hoje é saber se o Palmeiras será capaz de repetir tal performance diante do Corinthians, na decisão do campeonato.
Ah, se pudesse responder tais perguntas... Estaria milionário, numa praia do Taiti, mergulhado naqueles olhos verdes, distante de dilemas como esse. E oferecendo a vocês a paz do meu silêncio.

Eis a minha seleção do campeonato: Paulo César; Edinho, Célio, Gilmar e Roberto Carlos; Bernardo, Mancuso, Juninho e Giovanni; Marcelinho e Rivaldo.

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