São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Poupança vinculada já nasce sob desconfiança

Exigências para poupador ameaçam nova aplicação

RODRIGO AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Para amenizar a falta de financiamentos para a compra da casa própria pela classe média, o governo ressuscita uma idéia que já deu errado em 1988: a poupança vinculada à compra de imóveis.
A aplicação tem o objetivo de incentivar o pequeno poupador a manter o seu dinheiro na caderneta de poupança na expectativa de conseguir um financiamento para a compra de um imóvel.
A poupança vinculada poderá ser oferecida por qualquer agente financeiro. Até agora, porém, somente a Caixa Econômica Federal (CEF) anunciou que trabalhará com o novo produto.
O Banco Central prometia uma regulamentação enxuta, com poucas exigências, dando aos bancos autonomia para tentarem fazer a aplicação atraente para o investidor. A regulamentação não havia sido anunciada até quarta-feira, data do fechamento desta edição.
Uma das exigências previstas é a de que o poupador deixe o dinheiro na conta por, no mínimo, 36 meses. Antes disso, não pode ter direito à carta de crédito.
O rendimento da poupança vinculada deverá ser igual ao da poupança tradicional. Seguirá a variação da TR (taxa referencial de juros), mais juros de 6% ao ano.
Se um poupador quiser financiar R$ 50 mil, por exemplo, terá de poupar R$ 25 mil, num prazo máximo de dez anos.
O objetivo das exigências é evitar o que ocorreu em 1988, quando foi tentado pela primeira vez o lançamento da caderneta vinculada à compra de imóveis.
Na época, as condições eram bem mais generosas. O poupador recebia a carta de crédito depois de 24 meses se, nesse período, poupasse entre 10% e 25% do valor do crédito. A proporção variava de acordo com o valor do imóvel.
Essas condições fizeram com que só a CEF oferecesse o produto. E sua vida foi curta. Lançada em agosto de 88, foi extinta em fevereiro do ano seguinte.
O motivo do fracasso foi a grande procura. Sob o risco de não cumprir os compromissos assumidos, a CEF suspendeu a aplicação.
Pelas regras previstas, os bancos terão liberdade para firmar com o poupador as condições de liberação das cartas de crédito.
A CEF, por exemplo, já anunciou que pretende financiar a metade do valor do imóvel. Além disso, pode realizar sorteios de cartas de crédito entre os poupadores, como num sistema de consórcios.
Resta saber se a nova aplicação vai fazer sucesso junto aos investidores. O economista Fernando Borneo de Abreu, diretor-executivo do Secovi-SP (sindicato da habitação), acha que a poupança vinculada não atrairá o investidor que especula no mercado financeiro.
``Aplicações de longo prazo não trazem vantagens para quem procura um rendimento maior."
Mas ele vê um universo de poupadores de classe média fiéis à caderneta de poupança que pode migrar para a nova aplicação.
Entre esses poupadores, o principal problema será conciliar os depósitos mensais necessários com o pagamento do aluguel.
O economista Gilberto de Jesus, 35, por exemplo, acha a poupança vinculada uma boa idéia, mas teme não ter condições de poupar o dinheiro necessário para investir na aplicação (leia texto ao lado).

LEIA MAIS
sobre a poupança vinculada na pág. 9-3

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