São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Parkinson ganha novos tratamentos

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A doença de Parkinson é causada por deficiência do neurotransmissor dopamina, produzido em células nervosas (neurônios) de uma parte do cérebro chamada substância negra.
Na doença de Parkinson, essas células degeneram e morrem, acarretando a deficiência de dopamina, que provoca, entre outros sintomas, tremor e rigidez muscular.
Os tratamentos geralmente usados têm efeito parcial e, por isso, os especialistas estão sempre procurando novos meios de aliviar e tratar o mal.
Essa terapia tem sido muito combatida, não só por motivos políticos e éticos (uso de fetos abortados), mas também porque os resultados obtidos têm sido muito variáveis.
Essa variabilidade decorre da escassa sobrevivência das células transplantadas.
Para compensar esse defeito, tem-se aumentado muito o número de fetos utilizados por paciente (de quatro a dez vezes por enxerto).
Alguns pesquisadores têm procurado aumentar a sobrevivência dos enxertos. Sensacional progresso nesse sentido foi feito por Fred Gage, da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA).
Ele misturou aos neurônios do transplante células outras que, por artes da engenharia genética, passaram a produzir um fator de crescimento, o BFGF (fator básico de crescimento de fibroblastos), proteína que, neste e em outros tipos de tecido, aumenta a sobrevivência e o crescimento dos neurônios.
Essa estranha mistura foi implantada em ratos previamente injetados com uma neurotoxina que provoca no animal sintomas parecidos com os do mal de Parkinson em seres humanos.
Os resultados obtidos por Gage nesses ratos foram satisfatórios, pois os transplantes mistos persistiram dez vezes mais que os simples.
Além disso, houve reversão dos sintomas nos ratos. É cedo, porém, para saber se a descoberta terá utilidade na clínica humana.
Um passo adiante consiste em dispensar de vez os fetos. Arnon Rosenthal e colaboradores, da Genentech, descobriram que uma estrutura embrionária, chamada placa basal, produz substância capaz de tornar dopaminérgicas (produtoras de dopamina) células nervosas ainda indiferenciadas, tanto em ratos quanto em cultura de tecidos.
Essa descoberta sugere a possibilidade de produzir neurônios dopaminérgicos em proveta e usá-los por transplante ou injeção, o que eliminaria totalmente o uso de material fetal.
Atualmente vários experimentadores estão explorando esse caminho.
Outra trilha que está sendo seguida procura dispensar todos os transplantes e, em vez deles, injetar, no cérebro ou em outro ponto do corpo, o chamado fator neurotrófico glial (GDNF).
Experiências de Lars Olson e colaboradores revelaram que injeção direta desse fator no cérebro de ratos e camundongos pode salvar da destruição os neurônios dopaminérgicos lesados por meio mecânico ou químico.
Como a molécula do GDNF é grande e não consegue atravessar a barreira que regula a passagem do sangue destinado ao cérebro (barreira hemato-encefálica), os especialistas estão pensando em fabricar moléculas menores que, com ação semelhante à do GDNF, consigam atravessar a barreira.
Assim, a droga, aplicada em qualquer ponto do corpo, atingiria o sangue e, em particular, a substância negra.

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