São Paulo, domingo, 6 de agosto de 1995
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Criação do Estado palestino já é viável

JIMMY CARTER
PERGUNTA - A CRIAÇÃO DE UM ESTADO PALESTINO SERIA POSITIVA?

Resposta - A forma de governo dos palestinos é uma decisão a ser tomada por eles, obviamente levando em conta a segurança israelense. Este é o caminho que está sendo seguido nas atuais negociações para a paz.
Os acordos de Camp David, de setembro de 1978, assumiram compromissos muito semelhantes em relação à autodeterminação palestina. O então presidente do Egito, Anuar Sadat, e o então primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, concordaram que, durante um período de transição, seriam realizadas negociações para determinar o status de Gaza e da Cisjordânia.
O governo militar israelense e sua administração civil seriam retirados, exceto em locais de segurança previamente especificados.
O acordo negociado seria submetido ao voto de representantes eleitos, para que os palestinos pudessem decidir como iriam se governar.
Durante as discussões subsequentes, presumiu-se que Israel jamais aprovaria a criação de um Estado palestino e que o mais provável seria algum tipo de federação com a Jordânia.
Hoje, porém, a formação de um Estado palestino independente parece ser cada vez mais inevitável, mas só ocorrerá depois que os líderes palestinos tiverem negociado relacionamento satisfatório com Israel e com a Jordânia.
Pergunta - Qual é o maior obstáculo à auto-suficiência alimentar na África?
Resposta - É o fato de não se desenvolver entre os pequenos produtores agrícolas a capacidade de aumentar a produção.
Nosso Programa Global 2000 já comprovou, por meio de quase 200 mil famílias, que essa é uma meta viável, se forem fornecidas a essas famílias sementes de boa qualidade, aplicações moderadas de fertilizantes, curvas de nível para conter a erosão e treinamento em técnicas agrícolas, com demonstrações nos próprios locais.
Os mais altos dirigentes políticos cooperam conosco e a maioria das despesas fica por conta dos governos municipais e do setor privado.
Obviamente, também é preciso contar com locais adequados para armazenagem da produção e esquemas de distribuição para outros consumidores.
As instituições internacionais de crédito deveriam canalizar assistência a esses projetos agrícolas locais em pequena escala, em vez de grandes barragens e outros projetos semelhantes.
Fundações privadas, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e outras organizações especializadas poderiam atender às necessidades de produtos e regiões agrícolas específicos.
A solução consiste na utilização máxima da capacidade e da ambição das famílias de pequenos produtores.
Pergunta - Na condição de viajante mundial, que conselhos o senhor poderia oferecer para tratar com culturas diferentes?
Resposta - Minha mulher, Rosalynn, e eu já visitamos 110 países, a maioria dos quais devido ao trabalho no Carter Center.
Mesmo quando discordamos das políticas adotadas pelos dirigentes políticos de cada país, nós abordamos cada sociedade com o maior respeito por seus povos e costumes.
Infelizmente muitos viajantes norte-americanos possuem fama por sua arrogância, insensibilidade, falta de interesse nos povos dos diferentes países e uma tendência a se restringirem às rotas turísticas estreitamente definidas.
Uma visita a um país se torna muito mais interessante e divertida quando se aprende alguma coisa sobre esse país de antemão.
Isso se aplica especialmente a países que não são frequentemente visitados, como Eritréia (região que pertencia à Etiópia e declarou independência em 1993), Iêmen, Albânia, Mauritânia, Etiópia, Chade e Coréia do Norte.
Rosalynn e eu gostamos de assistir a eventos culturais locais e, sempre que possível, sair das cidades grandes e passar algum tempo em povoados e áreas agrícolas.
Pergunta - Ouvi falar que o senhor gosta de pescar. Qual foi a viagem de pesca que o senhor mais gostou de fazer?
Resposta - Rosalynn e eu adoramos pescar em rios e lagos e costumamos destinar várias ocasiões por ano à prática dessa arte.
Já pescamos em muitos Estados norte-americanos, e agora também na Nova Zelândia, Suíça, Japão, Canadá, Quênia, China, Inglaterra, País de Gales e Bahamas.
Quando estivemos na Coréia do Norte, no ano passado, o presidente Kim Il-sung insistiu que retornássemos com nossas varas e anzóis para pescar nos riachos da região norte de seu país.
Ele estava muito orgulhoso do programa de longo prazo de repovoamento de peixes que promoveu e queria que comprovássemos sua afirmação de que algumas das melhores trutas do mundo são encontradas na Coréia do Norte.
Embora cada viagem de pesca possua atrações próprias, é indiscutível que é no Alasca que se encontram algumas das melhores oportunidades para esse tipo de pesca.
Uma das melhores pescarias que fizemos foi no lago Iliama, a sudoeste da capital, Anchorage, onde passamos uma semana com nosso neto mais velho, Jason, 10.
Pescamos no rio Copper e também saímos do acampamento de avião para diferentes lugares para pescar trutas, salmões e lúcios.
Levei mais de uma hora e acabei descendo o rio por 1,5 km até conseguir pescar e depois soltar uma truta de seis quilos.
Fizemos viagens também emocionantes a Spruce Creek, na Pensilvânia (EUA), onde é preciso arremessar o anzol com delicadeza e usar linhas minúsculas e moscas artificiais, que imitam as moscas Trycorythodes, do tamanho de mosquitos. No ano passado, no Quebec (Canadá), Rosalynn e eu pescamos três salmões atlânticos, com peso total de 72 kg.
Estamos aprendendo e vamos continuar a experimentar novas técnicas e pescar em riachos que ainda não conhecemos. Esperamos incluir entre esses os rios das montanhas da Coréia do Norte.

Tradução de Clara Allain

Perguntas podem ser enviadas a Jimmy Carter no The Carter Center, One Copenhill Road, Atlanta, GA. 30307, EUA, ou a Jimmy Carter a/c The New York Times Syndicate, 122 E. 42nd Street, 14th Floor, New York, N.Y. Favor incluir nome, cidade e país. Nesta coluna serão respondidas perguntas de interesse geral. As perguntas não publicadas não poderão ser respondidas individualmente.

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