São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Limites do atleta

CIDA SANTOS

Ana Moser, Virna, Fernanda Doval, Nalbert e Carlos Schwanke. Estes são alguns atletas de seleção que nos últimos cinco meses acabaram indo parar nas salas de cirurgias. O crescente número de contusões verificado em vários países e a sobrecarga de treinos e jogos são questões que estarão em debate no Simpósio de Medicina Esportiva Aplicada ao Vôlei, em outubro, na França.
Ainda não há muitas estatísticas sobre o assunto. O médico Sérgio Augusto Xavier, que irá participar do simpósio com dois trabalhos, tem os seus próprios números. De 1988 a 95, período em que trabalhou no time feminino da Sadia e nas seleções brasileiras, ele atendeu 69 jogadores de alto nível. Desse total, 15 foram operados. Ou seja, mais de 23%. Um percentual considerado alto.
Apesar de o vôlei não ser um esporte de contato físico, ele acaba provocando lesões por exigir muitas repetições de movimentos. Imagine um jogador dando quase 200 saques em um treino. O impacto pode nem ser violento: o que machuca são os mesmos gestos repetidos muitas vezes.
É que o calendário não prevê um tempo de recuperação para os atletas. Veja os jogadores brasileiros: quando acaba a fase de seleção, já têm que ir direto para os clubes. Xavier diz que um período razoável de descanso entre um campeonato e outro seriam três semanas. Tempo suficiente para a recuperação da musculatura.
A contusão da atacante Ana Paula é a que melhor ilustra a maratona dos atletas de seleção. Só o nome já diz tudo: fratura de estresse na tíbia esquerda. É cansaço do osso do trabalho de sustentar o corpo em tantos jogos e treinos.
O que tem chamado a atenção nos últimos tempos são as contusões de atletas cada vez mais jovens. Exemplo: Fernanda Doval, 20 anos, e já com uma cirurgia no joelho. Na maioria das vezes, a causa é sobrecarga de trabalho. Uma realidade fácil de ser percebida nos clubes: basta aparecer um atleta de potencial e logo ele acaba tendo que jogar em duas ou até três categorias diferentes.
Segundo Xavier, um dos objetivos no simpósio é propor medidas de prevenção para diminuir lesões e evitar cirurgias. Os pesquisadores têm contribuído com grandes idéias. Nos anos 70, desenvolveram a joelheira no vôlei. Depois, vieram avanços com os tênis para diminuir impactos dos saltos. Agora, talvez seja a hora de discutir calendários e perceber que o atleta tem limites.

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