São Paulo, terça-feira, 8 de agosto de 1995
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Jabaculê

``Jabaculê", ou sua variante mais curta ``jabá", é uma gíria brasileira de etimologia obscura para designar ``gorjeta", ``dinheiro". O termo acabou se especializando para definir diversos procedimentos eticamente condenáveis, principalmente no setor de radiodifusão e de comunicações em geral.
Pode traduzir-se num presente para um jornalista, um convite para uma viagem, ou, como ocorre na relação entre gravadoras e rádios, na vinculação da difusão de certa música de interesse da gravadora à compra de espaço publicitário.
O jabaculê não se caracteriza, é óbvio, como crime, mas a falta de transparência desse tipo de relação para o público torna essa prática sempre eticamente condenável.
Como esta Folha informou ontem, as principais gravadoras do país, por meio de sua associação, decidiram sepultar o jabá. Espera-se que consigam, mas não será fácil. Em primeiro lugar, concorrentes terão de se unir, o que contraria a lógica do mercado. As rádios não deverão facilitar. Já há donos de emissoras afirmando: ``Ou faz promoção, ou não toco produto novo". Será que as gravadoras resistirão à pressão e permanecerão unidas em seu compromisso de moralizar o mercado?
No caso dos jornais, onde o jabaculê também é um problema, o ``Novo Manual da Redação" da Folha determina: ``A decisão de aceitar cabe a cada jornalista. A Folha recomenda recusar, exceto quando desprovido de valor material ou for de utilidade para o trabalho jornalístico". No caso de viagens promovidas por terceiros, a Folha tem como norma sempre identificar claramente que o jornalista viaja a convite e quem o financia. Isso ainda não é o ideal, mas é um importante primeiro passo para tentar garantir transparência para o leitor.
Todas as iniciativas que visem a proscrever o termo jabaculê dos dicionários e principalmente da realidade são bem-vindas.

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