São Paulo, terça-feira, 8 de agosto de 1995
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O enigma Britto

CLÓVIS ROSSI

Difícil dizer se foi cálculo político ou coincidência, mas o fato é que o governador gaúcho, Antônio Britto (PMDB), roubou a cena no encontro de 24 governadores com três ministros do governo central.
Primeiro, Britto produziu a frase mais forte da reunião a portas fechadas. ``Não podemos confiar na caneta do ministro da Fazenda", trovejou, a propósito das compensações que os Estados exportadores querem para a redução do ICMS sobre exportações.
Depois, ainda tirou do bolso o fax do Confaz, o conselho que reúne os secretários da Fazenda e as autoridades federais, convocando reunião para o dia 24, para discutir a concessão de isenção do ICMS nas exportações de produtos agrícolas e semi-elaborados e nas operações internas de produtos da cesta básica.
Britto argumentou que não adianta fazer reuniões se já se vai para elas com tudo decidido. Dobrou o ministro Pedro Malan, da Fazenda, que prometeu transformar a reunião do dia 24 de decisória em ``uma primeira discussão".
Por fim, Britto ainda saiu mais cedo do que todos os demais, mais ou menos na metade de uma reunião prevista para durar duas horas e que acabou se estendendo por quase cinco.
Pode até ser que o governador gaúcho de fato tivesse compromissos inadiáveis, mas o zunzunzum entre a massa de jornalistas concentrada no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro e também do encontro de ontem, era a de que expressava assim o seu descontentamento com uma reforma que, na semana passada, ele próprio considerava o caminho para uma ``baita decepção".
O difícil é traduzir politicamente os gestos mais recentes de Britto. Era tido como afinadíssimo com o governo Fernando Henrique e, de uma hora para outra, passa a ser o governador mais problemático.
A reforma tributária explica apenas em parte o azedume de Britto. Prejudica o Rio Grande do Sul, claro, ao desonerar exportações e produtos agrícolas, mas há um punhado de outros Estados que também perdem.
Será que o resto da explicação é 1998, ano da sucessão presidencial?

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