São Paulo, quarta-feira, 9 de agosto de 1995
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O cálculo das dívidas agrícolas

LUÍS NASSIF

Uma conta simples -a atualização dos débitos agrícolas- transformou-se em um verdadeiro labirinto de Creta. Há casos e mais casos de absurdos matemáticos -como o narrado ontem pelo colunista Joelmir Beting em sua coluna.
Para facilitar as contas, segue-se uma tabela que permite atualizar valor de financiamentos contratados no ano passado até a data do último aniversário -agosto ou julho passado.
Remeta-se à linha mais próxima da data de liberação do financiamento e procure a coluna referente à taxa de juros acordada. Depois, multiplique o número encontrado pelo valor do financiamento liberado.
Um financiamento de R$ 50 mil, contratado em 10 de julho de 1994, a uma taxa de 12% ao ano, corresponderá ao seguinte passivo: 50 mil x 1,6409 = 82.045,00.

Inadimplência
No início de maio, a coluna alertou para dois aspectos da política monetária do governo:
1) Já vinha crescendo uma onda de inadimplência de empresas e pessoas físicas que, por si, seria suficiente para conter a demanda por crédito.
Nesta semana, o boletim da corretora Fator publicou estudos dos economistas Bernardo Appy e Fernando Camargo demonstrando que, de março a maio, o volume de crédito concedido pelos bancos havia sido negativo em US$ 9,4 bilhões.
2) A virulência da política monetária em pouco tempo afetaria as receitas dos Estados.
O secretário da Fazenda de São Paulo, Yoshiaki Nakano, informa que ascende a 15% a inadimplência declarada de ICMS -ou seja, de empresas que devem e não negam. Obviamente, as estatísticas não registram a sonegação pura e simples.
Na ocasião, nenhum dos membros da equipe econômica aceitou essa realidade. Operaram o doente no escuro, sem dispor de dados confiáveis e sem informações corretas sobre o mundo real.

Crise
Já faz três semanas que colegas da área econômica evitam citar casos individuais como exemplo de que a recessão é uma ficção de quebrados para atrapalhar suas fontes no governo.

Caso Econômico
A questão Econômico começa a se encaminhar para o leito correto. Vai-se encontrar um ou mais bancos que se incumbam da operação do Econômico. Esses bancos se associarão às empresas do setor petroquímico que já estão envolvidas na operação -que garantirão a baianidade da operação, sem dinheiro da viúva.
Não há nenhuma lógica na inclusão do financista baiano-carioca Daniel Dantas na operação. É um financista talentoso, mas que não conhece -nem pretende- operações de banco comercial. Se é para dar comissão a alguém, que se nomeie Betinho para intermediário.

Racionais
Aí o operador de mercado internalizou US$ 100 milhões pelo câmbio comercial, aplicou no CDI e, no dia seguinte, remeteu-os de volta pelo câmbio flutuante. Embolsou seu US$ 1,4 milhão na moleza e, antes de fechar a contabilidade do dia, entornou seu uísque com gelo e permitiu-se pensar no Brasil: ``Esse Jatene é um perdulário desgraçado, querendo dar o nosso dinheiro para os mais pobres". E foi para casa, apreciar a crise de longe.
Poços de Caldas
Uma velha estação de trem, que ultimamente servia apenas para passeios turísticos, pode ter sido o elemento decisivo para a Volkswagen escolher Poços de Caldas para sede de sua fábrica de motores. A presença da Alcominas ajudou. As enormes belezas naturais da cidade não pesaram na escolha. Mas vão se constituir em prêmio adicional aos funcionários da empresa.

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