São Paulo, quarta-feira, 9 de agosto de 1995
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Operação-relâmpago em dólar traz lucro de 1%

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cerca de US$ 800 milhões entraram e saíram do país no mesmo dia
Cerca de US$ 800 milhões entraram e saíram do país legalmente no mesmo dia, nos últimos quatro dias. A estimativa, conservadora, foi colhida pela Folha junto a operadores de câmbio, que preferiram não se identificar.
O objetivo da operação-relâmpago: ganhar 1% sem fazer força.
O dinheiro entra pelo mercado do dólar comercial (exportações e importações). Ou seja, o investidor vende dólares (para ficar com reais) neste mercado.
Depois, no mesmo dia, sai pelo do dólar-turismo (também chamado de flutuante). Ou seja, o investidor troca, neste mercado, seus reais por dólares.
O ``investidor" de um dia ganha a diferença.
Ontem, o dólar comercial foi negociado a R$ 0,9355 e o flutuante a R$ 0,9250.
Em uma hipotética operação inicial de US$ 1.000, o investidor teria obtido, ao entrar no país, R$ 935,50. Na recompra de dólares pelo flutuante, esse valor em reais transformou-se em US$ 1.011,35, com ganho de 1,14%.
Essa operação é também conhecida no mercado como ``bicicleta". Como numa roda, o dinheiro entra e sai.
O ingresso no país é feito pelo chamado ``anexo 4", parte do acordo da dívida externa que regula a entrada de recursos para aplicações em Bolsas e em ``moedas podres" (títulos públicos de recebimento duvidoso, como debêntures da extinta Siderbrás, que podem ser aceitos na privatização).
O ingresso via ``anexo 4" não paga IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Com o dinheiro no país, basta que o investidor compre uma ação ou um título ``podre" e o venda no mesmo dia -já transferindo os recursos para o exterior pelo flutuante.
A diferença de preço entre o comercial e o flutuante permanece favorável a essa operação, por uma simples razão: a entrada de dinheiro, mesmo no flutuante, continua maior do que as saídas.
Somente no dólar comercial, as entradas superaram as saídas no mês (até as 18h15 de ontem) em cerca de US$ 2,2 bilhões.
O Banco Central vai discutir em reunião hoje, em Brasília, a possibilidade de restringir a entrada de capital externo no país.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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