São Paulo, quarta-feira, 9 de agosto de 1995
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Bienal contrata curadores internacionais

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fundação Bienal contratou seis curadores internacionais para a mostra programada para outubro a dezembro do próximo ano.
Nelson Aguilar, curador-geral da Bienal, também definiu o tema da mostra: ``A Desmaterialização da Arte no Final do Milênio". É a idéia de que a obra vai perdendo peso, virando luz. Aguilar planeja uma sala especial com o suíço Paul Klee (leia texto ao lado).
Com a contratação, a principal mostra de arte do Brasil passa a ter mais controle sobre a qualidade e a pertinência temática dos trabalhos.
Até a mostra do ano passado a Bienal atuava em dois níveis: 1) recebia artistas indicados por curadores dos cerca de 70 países convidados; 2) o curador-geral organizava salas especiais com artistas escolhidos por ele e selecionava os representantes brasileiros.
O nível de controle era mínimo: o curador conhecia os brasileiros, as salas especiais, mas sabe-se lá quem será o escolhido pelo Quirguistão ou pelos outros 69 países.
Com a mudança, a Bienal cria um terceiro nível sob seu controle e se aproxima da estrutura da Documenta de Kassel.
A exposição alemã, considerada uma das melhores do mundo, seleciona todos os artistas que quer e não aceita intromissão de países. Aqui, a intromissão foi reduzida.
Para contratar os curadores internacionais a Bienal emagreceu. Cada um dos 70 países poderá enviar um único artista e não mais três. Resumo da ópera: em 1994 a mostra expôs 206 artistas; para o ano que vem são estimados 137.
``Estamos emagrecendo para ganhar qualidade", diz Edemar Cid Ferreira, 52, presidente da Bienal. ``A idéia é colocar definitivamente a Bienal no circuito internacional das artes. Todo mundo virá ver uma exposição com os melhores curadores do mundo".
Os curadores vão escolher artistas em um mapa-múndi dividido em sete blocos: Brasil, América Latina, Estados Unidos e Canadá, Europa Ocidental, Europa Oriental, Ásia, África e Oceania. Cada um seleciona seis artistas (leia no quadro quem são os curadores).
O francês Jean-Hubert Martin, ex-diretor do Centro Georges Pompidou (o Beaubourg) em Paris e organizador de megaexposições como ``Paris-Berlim" (1978) e ``Os Mágicos da Terra" (1989), responde pela África e Oceania.
O italiano Achille Bonito Oliva, curador da Bienal de Veneza em 1993, cuida da Europa Ocidental.
Os artistas brasileiros serão escolhidos pelo curador-geral da Bienal, Aguilar, e seu adjunto, Aguinaldo Farias.
O Brasil participa com sete artistas. Um representa o país e outros seis, o bloco chamado Brasil. Na mostra de 1995 a representação brasileira tinha 23 artistas.
``Vai ser a Bienal com mais autonomia curatorial que já houve", diz Aguilar, 49. ``Os curadores internacionais vão mudar a cara da exposição. Nunca houve uma densidade tão grande de informação em tão pouco espaço no Brasil".
A redução no número de artistas que cada país enviará vai elevar a qualidade da mostra, acredita: ``O curador vai pensar três vezes antes de escolher um só artista", afirma.
Cada curador contratado receberá US$ 10 mil (cerca de R$ 9,35 mil) por 15 meses de trabalho. A Bienal pagará o transporte e o seguro das obras escolhidas por eles.
Os representantes dos 70 países convidados são bancados pelo próprio país.
Ferreira diz que a contratação de curadores não elevará os custos da 23ª Bienal, orçada entre US$ 2 milhões e US$ 2,5 milhões.
A última mostra consumiu cerca de US$ 4 milhões, segundo Ferreira, por causa de reformas no prédio e da criação de ambientes climatizados para as salas especiais.

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