São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995 |
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Tragédia amazônica
NELSON DE SÁ
Em cenas anteriores ao conflito, os posseiros surgiam com os rostos cobertos por lenços ou com as caras pintadas, agitando enxadas e paus. Crianças, várias crianças, bebês de colo rodeavam os barracos, com as mães. Passado o conflito, acontecido na madrugada, os barracos surgiram queimados. Numa sala sem identificação, três corpos de posseiros estavam no chão, dois com sinais de vida, e um quarto, talvez de uma criança, era carregado. Várias dezenas de posseiros apareceram sentados na clareira entre os barracos queimados, com os braços presos e a cabeça baixa, cercados por policiais encapuzados. Com exceções como a Rede Brasil, as emissoras evitaram expressões tipo ``massacre". Sem dados, para além do oficial, da polícia e do governo estadual que comanda a polícia, a cobertura foi confusa e desconfiada. Assim, a Globo falou em ``tragédia", sem tomar partido, mas deu o número de mortos divulgado pela polícia, 11, como definitivo. O governador Valdir Raupp, com uma presteza de quem já esperava a repercussão, chegou ontem mesmo a Brasília, passando a culpa adiante. Responsabilizou os posseiros, na Manchete: - Tinha até atirador de elite, do outro lado. Responsabilizou o governo federal, no SBT: - O Incra é muito moroso. Já era para ter assentado esse pessoal. Falando às câmeras de Brasília, o governador pregou sozinho, na maioria das redes, a sua inocência. Os posseiros tiveram pouco mais do que as imagens, muito editadas, em seu favor. Um deles ainda chegou a descrever um fuzilamento, na Globo: - O meu colega estava ao lado, assim, de joelhos assim. Aí ele tomou um tiro dentro da boca, assim. Foram presos 350, entre homens, mulheres e crianças. Os posseiros, segundo a polícia, vão ser processados por ``resistência" e ``homicídio". No fim da cobertura: - Só o corpo de uma menina de sete anos foi liberado. Texto Anterior: O rateio da pobreza Próximo Texto: Pistoleiros ajudaram polícia, diz secretário Índice |
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