São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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Espelho, espelho meu

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Fernando Henrique Cardoso é um homem vaidoso. Não há posições divergentes a respeito. No momento, sua vaidade está especialmente aguçada.
Embora seja crescente a taxa de insatisfação em relação ao governo, o presidente acha que tem feito um bom trabalho. Em parte, tem razão. Impossível deixar de reconhecer-lhe os méritos.
É preciso, porém, que algum assessor com maior intimidade diga a Fernando Henrique que é cedo, muito cedo, para pensar em reeleição. Antes, é preciso consolidar o trabalho já realizado. E, mais importante, preparar-se para os três anos e meio de tormenta que estão por vir.
A idéia de mudar a Constituição para permitir a reeleição do presidente seduz Fernando Henrique. Não que esteja em campanha. Mas são claros os sinais que vem emitindo.
Na terça-feira à noite, por exemplo, o deputado Inocêncio Oliveira, líder do PFL na Câmara, puxou conversa com o presidente. Disse-lhe que o PFL defende a tese de sua reeleição. Fernando Henrique apenas ouviu.
Inocêncio aditou uma ressalva. Disse considerar o momento inoportuno para um debate do gênero. O princípio da reeleição teria de ser estendido a governadores e prefeitos. O que atrairia a oposição de todos os candidatos à eleição para as prefeituras, marcada para outubro de 96. E Fernando Henrique ouvindo.
O deputado disse, então, que o ideal seria retomar o debate sobre reeleição apenas em 97. ``Essas coisas têm o seu timing", opinou. Como o presidente não moveu os lábios, a conversa tomou outro rumo.
É preciso ouvir, porém, o que disse o silêncio de Fernando Henrique. Aliás, nenhuma palavra poderia ter falado tão alto e claro. Sua boca travada afirmou, primeiro, que é mesmo candidato à reeleição. Segundo, que gostaria de ver a Constituição modificada de uma vez.
Ainda que se introduza imediatamente no texto constitucional o princípio da reeleição, as chances de Fernando Henrique estarão condicionadas à popularidade que tiver em 99. E só será popular se arregaçar as mangas. Até lá, não seria má idéia quebrar todos os espelhos do Alvorada.

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