São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Em Macabu, não há projeto para empregos

AZIZ FILHO
ENVIADO ESPECIAL A CONCEIÇÃO DE MACABU (RJ)

O Comunidade Solidária não tem projeto para criar, em Conceição de Macabu, empregos, a principal carência do município. A 200 km ao norte da capital do Estado, Macabu é um dos oito municípios do Rio incluídos no programa.
Macabu tem cerca de 20 mil habitantes. Das crianças com até 12 anos, 23,6% são desnutridas (15% no Brasil). A miséria na cidade se agravou em 1993, quando foi fechada a usina de açúcar e álcool Victor Sence, que, segundo o prefeito José Castro (PSDB), 45, garantia 6.000 empregos.
A distribuição de 1.032 cestas é o único sinal da presença do programa em Macabu.
O orçamento municipal é de R$ 5 milhões anuais. Se os projetos do Comunidade Solidária forem concretizados, Macabu receberá um reforço de R$ 220 mil, 4,4% de seu orçamento anual.
O cálculo não inclui eventuais empréstimos para moradia e saneamento, que deverão ser de R$ 17,75 milhões para os municípios que integram o programa no Rio.
Macabu, São Sebastião do Alto, Trajano de Morais e Santa Maria Madalena formam um bolsão de miséria no Estado. Em Macabu são estocados os alimentos distribuídos pelo Exército na região.
Castro disse que em um mês deverão ser concluídos os projetos para que Macabu receba verbas de alimentação e material escolar e distribuição de leite.
O vereador Francisco Barbosa (PDT), 54, representante da oposição na comissão que distribui as cestas, disse não ter visto irregularidade no processo. Ele considera o número de cestas ``insuficientes para a miséria do município".
Segundo o prefeito, além de serem necessárias mais mil cestas, o programa é comprometido por duas contradições.
Primeira: os inadimplentes com a União não podem contrair empréstimos. Segunda: a obtenção de empréstimos é limitada à capacidade de endividamento do município (15% da arrecadação).
A segunda distribuição de alimentos em Macabu deve acontecer em meados de setembro. Em novembro deve acontecer a última. Um estoque de 68 toneladas de alimentos é guardada dia e noite por soldados do Exército.

"Comidinha"
Jamil Gomes, 57, passou a vida cortando cana para a usina Victor Sence e há dois anos esmola nas ruas de Conceição de Macabu. Segundo ele, a cesta foi ``uma comidinha que caiu do céu".
Antônia Carvalho, 45, disse que coloca ``uma tintazinha" para melhorar o sabor do arroz. Ela trabalhava na usina e hoje alimenta duas filhas criando galinhas e vendendo mandioca. Ela não sabe quem comprou os alimentos distribuídos: ``Comunidade o quê?".

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