São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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"Tive mais de 50 crises de malária"

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RONDÔNIA

Jurandir Pereira chegou a Rondônia com 18 anos. Mineiro de Governador Valadares, inscreveu-se no Incra para obter uma área de terra. Pouco depois, foi informado de que tinha sido selecionado para receber 40 hectares em Itapuã, em um assentamento na região de Porto Velho.
Ele chegou a Porto Velho em 75 só com a roupa do corpo e sem dinheiro. ``Vim com muita vontade de vencer, de trabalhar duro."
Diz que, ao chegar à área determinada, ficou com medo da ``mata cerrada". Entusiasmado por colegas de viagem, decidiu iniciar a derrubada da mata.
``Em poucos dias, estava hospitalizado com malária. Quase morri. Tive mais de 50 crises da doença. O médico me proibiu de voltar ao assentamento", afirma.
Em Minas, Pereira morava com os pais num casarão, e a vida não era tão difícil. ``Não tínhamos dinheiro, mas tínhamos um certo conforto, uma casa para viver, fartura no quintal. Em Rondônia, estava tudo por fazer", disse.
Hoje, casado e pai de três filhos, ele se diz ``frustrado". Não conseguiu mais voltar a Minas. Para sobreviver, foi trabalhar como vigia.
Há três anos trabalha em Colorado d'Oeste. É o vigia de uma antiga fábrica de farinha de mandioca do Banco do Estado de Rondônia e ganha R$ 150 mensais.
Diz que se arrepende da aventura em Rondônia. ``Em Minas, eu vivia melhor, trabalhava na roça e tinha uma vida mais digna. Talvez até estivesse ganhando mais."
Pereira nunca mais retornou à terra que recebeu do Incra. Não sabe se perdeu a área. Ele espera apenas que o futuro seja melhor para seus filhos. ``Eles nasceram aqui. São filhos dessa terra."
(LM)

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