São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Zagallo desiste de Jorginho, finalmente

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O solerte (e, no caso, o termo se renova na exatidão) repórter Mário Magalhães, lá do outro lado do mundo, informa que, finalmente, Zagallo desistiu de Jorginho, convencido de que o extraordinário lateral não mais tem pernas e fôlego para cumprir as múltiplas funções destinadas hoje aos jogadores de sua posição.
E já anunciou seu preferido para a posição: Cafu, claro.
O que me deixa encafifado é que Zagallo justifica a escolha apenas pela maior experiência de Cafu sobre os possíveis outros candidatos -Bruno, do Vasco, e Rodrigo, que já foi para o futebol alemão.
Só por isso? Se for assim, começo a desconfiar de que nosso técnico não está vendo o futebol com o olhar aguçado de um ``expert", que ele é, sem dúvida.
Ora, começando pelo apelido, Cafu, corruptela de Cafuringa, o saudoso ponta-direita do Fluminense, célebre pela facilidade com que se livrava dos adversários com fintas e dribles desconcertantes, o que exige uma técnica refinada.
Quem carrega, pois, tal apodo só pode ser dono de respeitável habilidade no trato com a bola. Além do mais, o que sempre caracterizou o futebol de Cafu, peça-chave daquele São Paulo bicampeão do mundo e renitente vencedor do início da década, foi a velocidade incontrolável, aliada a uma inacreditável capacidade pulmonar de ir e vir, sem baixar o ritmo durante o jogo todo.
Por fim, Cafu tem a versatilidade dos famosos curingas da nossa história, como o velho Lima, do Santos, lembram-se? Joga de lateral-direito, volante ou meia com a mesma desenvoltura. E ainda se dá ao luxo de marcar seus golzinhos. Só na goleada histórica do Palmeiras sobre o Grêmio, embora fosse apenas sua segunda partida no novo time, ainda que viesse de uma longa paralisação, Cafu fez dois gols. Um deles antológico, pela soma de precisão e sofisticação da jogada.
A propósito, naquela noite, Mancuso foi o leão do jogo. Mas muito da liberdade que teve para se movimentar foi dado pelo senso de colocação de Cafu no meio-campo, que lhe cobria as avançadas com segurança, assim como incrementava a velocidade na saída de bola para o ataque, com suas surpreendentes penetrações pela meia-direita.
Aliás, sua presença por ali foi vital para que o lateral Índio cumprisse sua única performance digna desde que chegou ao Parque.
Não é pouco, convenhamos.
Ah, sim, mas Cafu cruza mal. Cruza mesmo? É evidente que Cafu erra muitos cruzamentos, como, de resto, qualquer jogador que atue em alta velocidade está mais propenso a errar. De qualquer forma, se Jorginho chega à linha de fundo cinco vezes, Cafu chega dez.
Se Jorginho errar cinco e Cafu oito, um foi absolutamente inócuo, enquanto o outro, com seus dois centros corretos, pode definir a partida. E, no futebol moderno, tão retrancado, essa pode ser a linha fina entre a derrota e a vitória.

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