São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Uso de estrogênio pode causar câncer

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O estrogênio, hormônio sexual feminino, encontra-se muito espalhado nos tecidos do corpo, o que indica suas múltiplas atividades. Existe, por exemplo, no cérebro fetal, como o hormônio masculino (testosterona), o que leva alguns especialistas a considerar inatas certas características do comportamento nos dois sexos.
O estrogênio aumenta o número de conexões entre os neurônios (células nervosas) na região chamada hipocampo, que desempenha papel na memória e no aprendizado.
Ele é fabricado pelos ovários e seu teor começa a elevar-se nas meninas já aos oito anos de idade, subindo paulatinamente à medida que elas crescem e se transformam em mulheres adultas, quando atinge o nível máximo.
O estímulo para sua produção origina-se no hipotálamo, parte do tronco cerebral que excita a hipófise, alguns de cujos hormônios, atuando sobre os ovários, fazem-nos fabricar o estrogênio.
O quadro começa a reverter-se 25 anos após, quando a produção do hormônio começa a baixar e acaba por desaparecer, ou quase, na menopausa.
Em muitas mulheres, a menopausa é assinalada por vários sintomas desagradáveis (ondas de calor, suores noturnos, irritabilidade etc.), além de alterações da pele, que marcam o envelhecimento.
Na década de 60, foi anunciado com muito alarde que os sintomas da menopausa poderiam ser aliviados ou evitados pela ingestão de pílulas de estrogênio.
Isso causou verdadeiro furor entre as mulheres e os médicos e o uso do estrogênio na menopausa passou a ser muito comum e prolongado.
Em 1975, verificou-se, porém, que esse regime favorecia o aparecimento de certos tipos de câncer, em particular o uterino, o que causou natural retração na venda do hormônio, que só voltou a crescer quando se observou que o risco do câncer uterino podia ser diminuído ou anulado pelo uso de doses menores de estrogênio em combinação com progestina (progesterona sintética).
Assim nasceu a terapia de reposição hormonal para combater os efeitos da menopausa e manter o bem-estar das mulheres nessa fase.
Mas o espectro do câncer continuou rondando e pesquisa recente, publicada no "New England Journal of Medicine, reafirmou que essa terapia aumenta os riscos do câncer mamário.
Outra pesquisa anterior revelara que o novo regime, quando prolongado (e ele por natureza deve ser contínuo), predispõe ao fatal câncer ovariano. Estabeleceu-se verdadeira batalha entre os adeptos da nova terapia e seus contrários.
Entre seus riscos, figuram o aumento do câncer do endométrio (membrana que forra o útero), o aparecimento de tumores fibróides benignos do útero, o aumento do câncer mamário, etc.
É preciso, todavia, lembrar que diversos dos alegados benefícios da nova terapia exigem uso prolongado ou contínuo. Assim, para prevenção da osteoporose, é preciso usar o estrogênio pelo menos durante sete anos.
O mesmo se pode afirmar em relação à doença cardíaca, cujos riscos voltam assim que se suspende o tratamento.
Vários especialistas se queixam da qualidade das estatísticas em que se baseiam os proponentes da nova terapia.
Felizmente, os National Health Institutes dos Estados Unidos planejam um grande estudo com 27,5 mil mulheres que serão distribuídas em dois grupos, um com estrogênio e outro com placebo.
O acompanhamento dessas mulheres levará oito anos. Somente em 2005 teremos resultados realmente fidedignos a respeito dos prós e contras da terapia da reposição. Diante do grave dilema da menopausa, nada melhor que a opinião de um especialista da confiança de cada mulher.

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