São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 1995
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Vala clandestina pode abrigar ossos de desaparecidos

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

No final da década de 70, centenas de ossadas foram enterradas em vala clandestina no cemitério da Cacuia (Ilha do Governador, zona norte do Rio). Os restos mortais de desaparecidos políticos podem estar nessa vala.
Em valas semelhantes descobertas nos cemitérios de Ricardo de Albuquerque (zona norte do Rio) e Perus (zona norte de São Paulo), foram achados ossos de esquerdistas mortos no regime militar.
No ossário da Cacuia, estaria a ossada do deputado Rubens Paiva, que desapareceu em 1971 após ser preso no Rio por militares.
Segundo o diretor do IML (Instituto Médico Legal) de Cabo Frio (140 km do Rio), Jorge Galvão da Fontoura, 72, os ossos de Paiva apareceram na praia do Recreio dos Bandeirantes (zona oeste) em 2 de novembro de 1973.
Conforme registros do IML do Rio, a suposta ossada de Paiva foi enterrada na quadra de indigentes da Cacuia em 15 de julho de 1974. Em 16 de agosto de 1980, a ossada teria ido para o ossário.
A vala clandestina da Cacuia fica entre o ossário e o terreno onde são sepultadas crianças indigentes. A existência da vala foi revelada à Folha pelo encarregado do cemitério, Antônio Estevão, 67.
Estevão disse que, no fim dos anos 70, o ossário da Cacuia lotou. A administração abriu uma vala ao lado do ossário, onde passou a depositar as ossadas tiradas das covas. Após o ossário ser esvaziado, a vala foi fechada.
A vala tem 5 metros de comprimento por 4 metros de largura. A profundidade, disse o encarregado, é de até 3 metros. Parte do terreno foi tomado por covas de crianças mortas.
Para a presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra, pode se repetir na Cacuia as descobertas de Perus e Ricardo de Albuquerque. De 1973 a 1975, os indigentes adultos no Rio eram enterrados na Cacuia. O cemitério de Ricardo de Albuquerque recebeu indigentes de 1969 a 1973.
Em escavações realizadas em Ricardo de Albuquerque em 1991 e 1992, o Tortura Nunca Mais recolheu 200 das 2.000 ossadas depositadas na vala. Entre elas, estariam ossadas de 14 militantes enterrados com os nomes verdadeiros, mas como indigentes.

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