São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 1995
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Presença no exterior facilita transição

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Há um consenso de que o sistema financeiro do Brasil foi extremamente eficiente durante o regime de alta inflação, que prevaleceu a partir do início da década de 80.
Uma verdadeira revolução tecnológica e administrativa ocorreu no sistema bancário com o objetivo de oferecer e operar um sistema de aplicações financeiras de curtíssimo prazo.
Sofisticados sistemas de comunicação e de processamento eletrônico de dados permitiam a integração ``on-line" de milhares de agências bancárias espalhadas pelo país, viabilizando a realização de milhões de operações financeiras com imediato impacto na conta corrente dos depositantes.
Esses sistemas individuais de processamento de dados estavam ligados uns aos outros e ao Banco Central. Nenhum país do mundo em nenhum momento da história humana conseguiu girar a moeda nacional com tanta velocidade.
A principal função econômica dos bancos passou a ser a de reduzir ao mínimo possível a cobrança pelo governo do chamado imposto inflacionário.
A realização de operações de empréstimos, mesmo de curto prazo, passou a ter um papel secundário na estratégia operacional dos bancos. Os ativos que suportavam o sistema de aplicações de curto prazo -e que geravam a maior parcela de seus lucros- eram representados por títulos indexados ao overnight e emitidos pelo governo federal e, em menor volume, pelos Tesouros estaduais.
A não ser em casos muito especiais, os riscos associados aos empréstimos ao setor privado não justificavam a existência de uma carteira de crédito de grandes proporções. Além disso, as lições da crise do SFH, logo após o Plano Cruzado, mostraram aos bancos quanto perigoso é o sistema de indexação financeira quando a inflação supera certos limites.
O sistema bancário brasileiro, pelo menos o seu núcleo que sai da crise da inflação crônica, é eficiente. Tecnologicamente, está entre os melhores do mundo, altamente capitalizado e com uma carteira de empréstimos bastante reduzida.
A crise econômica gerada pelo Plano Cruzado em 1986 foi suficiente para alertar aos banqueiros da perigosa dependência dos ganhos inflacionários e da pesada estrutura de pessoal que eles mantinham. De lá para cá, os bancos privados reduziram seus quadros de funcionários em mais de 50% e investiram pesadamente em um sistema sofisticado de agências eletrônicas.
Portanto, os bancos estão preparados para reciclar suas atividades para as áreas de crédito e de serviços bancários, principalmente o de administradores de recursos dos investidores nacionais e estrangeiros.
A rapidez com que o mercado de crédito comercial de curto prazo e de financiamento do consumo foi reconstruído durante os primeiros meses do Plano Real mostra o potencial do sistema. O Banco Central foi obrigado a lançar mão de todos os instrumentos disponíveis para controlar a oferta de crédito.
Outra vantagem comparativa do sistema bancário brasileiro -e que representará importante fator na reconstrução do crédito de curto e médio prazos- é sua articulação com o mercado internacional de capitais. A grande maioria de nossos intermediários financeiros tem hoje unidades no exterior.
Dadas as limitações de nosso sistema de poupança interna, tanto em relação ao volume de recursos quanto na cultura de aplicações de curto prazo, que ainda vai prevalecer por um certo período, as operações de crédito de prazos mais longos dependerão da mobilização de poupança externa. Isto vale tanto para o mercado de crédito quanto para as operações de investimento em capital de risco.

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