São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 1995
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Bemge adota `recuo estratégico'

PAULO PEIXOTO

Inadimplência obriga financeira a agir com cautela para sobreviver em mercado
A Financeira Bemge conseguiu no ano passado um dos melhores resultados da sua história e foi a mais rentável no ranking das financeiras em 1994: 43,6%. Neste ano, no entanto, adotou o que chama de ``recuo estratégico".
O motivo desse recuo é a alta taxa de inadimplência. Por isso, a financeira está com sua carteira fechada para novas operações desde o final de fevereiro.
``A situação é completamente diferente. O momento é de não perseguir a rentabilidade, mas de se preocupar com a segurança, olhar o risco", diz Marcelo Lara Resende, 46, presidente da Financeira Bemge.
Segundo ele, o aperto na liquidez, a restrição ao crédito e as altas taxas de juros são ``sinais claros de que é preciso redobrar a atenção". O fechamento temporário da carteira de financiamentos, segundo Resende, foi uma decisão acertada, embora afirme que na época tenha havido muitas contestações. ``Hoje ninguém tem dúvidas. É preciso ver adiante", diz. E acrescenta: ``É recuar ou morrer. É questão de estratégia."
Em dezembro de 94, o volume de operações da Financeira Bemge era nove vezes maior do que o seu patrimônio líquido (R$ 18,5 milhões). O valor dos contratos em carteira somavam R$ 172,7 milhões. Em junho deste ano, o volume das operações foi de R$ 73,9 milhões.
O momento é de renegociar com os inadimplentes e aproveitar para melhorar a qualidade do ativo da financeira. A carteira será reaberta ``gradativamente e de forma seletiva para evitar a inadimplência".
Em junho, a rentabilidade foi de 21,2%, índice semelhante ao apurado no final do exercício de 1993. A previsão para 95, segundo Resende, é terminar o exercício financeiro com rentabilidade próxima a 30%.
A boa rentabilidade da Financeira Bemge em 94, segundo Resende, é atribuída à carteira pulverizada, com operações de menor valor. Isto, diz ele, dilui os riscos e permite uma rentabilidade maior, pois os juros cobrados sobre os empréstimos de menor valor são mais altos.
Operando com a rede de 850 agências do Bemge, a financeira trabalha de forma enxuta. Além de Resende, há um diretor de operações, um superintendente, dois gerentes e seis analistas. ``O resto é feito dentro do banco. É uma enorme vantagem."
Investir em informática para crescer mais é o projeto da financeira. Esse plano deverá entrar em execução em médio prazo. Será um investimento alto, mas a direção da financeira alega que ainda não há nenhuma previsão de custos.
``Feito isso, esta financeira pode dar resultado muito superior ao obtido no ano passado, desde que, evidentemente, a conjuntura econômica permita", afirma.
O ex-presidente da Financeira Bemge, atualmente superintendente do Bemge em São Paulo e sul do país, Murilo Hosken, 35, diz que a boa rentabilidade em 1994 foi também um reflexo do trabalho cauteloso realizado, em função da inflação alta.
``Não havia em 93 mercado para operações de longo prazo. Era risco para o cliente e para a financeira", diz. Segundo ele, trabalhando com operações seletivas e de maior valor, a financeira pôde se estruturar e, aos poucos, ir abrindo suas carteiras para trabalhar com operações de menor valor.
``Quando veio o Plano Real, todas as carteiras estavam operando", afirma.
A base dos clientes do banco nas operações foi um dos sucessos da rentabilidade de 94, segundo Hosken. Sendo clientes conhecidos, o risco passou a ser calculado.

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