São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 1995
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Fernando Franco Cardoso

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Quando ocupou o posto de ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso tinha uma atribuição que extrapolava a simples gerência da economia. Era uma espécie de babá do presidente Itamar Franco.
Mesmo depois de ter virado candidato à Presidência, os técnicos da Fazenda costumavam acioná-lo para impedir que Itamar tomasse decisões capazes de comprometer o Plano Real.
Pois Fernando Henrique, agora sentado na cadeira de presidente, teve, na última segunda-feira, o seu dia de Itamar Franco. E, supremo azar, não havia ao seu lado ninguém para evitar o que se transformou em uma grande e cara trapalhada.
Ao aceitar negociar com o governo baiano o abrandamento da intervenção no Banco Econômico, o presidente cometeu um erro primário. Pôs-se em posição de inferioridade diante de um vitaminado Antônio Carlos Magalhães.
Ao agachar, Fernando Henrique levou consigo toda a equipe do Banco Central, cuja autoridade ficou rente ao chão. Ontem, o governo se esforçava para consertar a situação.
Dizia-se no Planalto que houve erro na divulgação dos entendimentos. Deixou-se que a tropa baiana desse livre curso à sua versão. De fato, o governo se comunicou muito mal. Mas o problema é mais profundo.
Permitiu-se a abertura de uma fenda na credibilidade do governo, eis a verdade. Restou do episódio a impressão de que, submetido a pressões, Fernando Henrique entrega-se à velha e boa mania tucana de tentar agradar a todos.
A Bahia pede ao governo que dê ao Econômico o mesmo tratamento dispensado ao Banerj e ao Banespa. Ora, muito bem. Há uma boa forma de atender ao pedido.
Não se trata de dar vida boa ao Econômico. Deve-se, ao contrário, tratar os governos de São Paulo e do Rio com maior rigor. É hora de pôr fim à lengalenga, desapropriando as ações dos dois bancos estaduais, privatizando-os em seguida.
Se deseja agradar a alguém, o presidente Fernando Henrique deveria afagar o contribuinte. Prestaria enorme serviço à nação e, de quebra, recuperaria a credibilidade perdida.

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