São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 1995
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A passagem do bastão do PT

EDUARDO MATARAZZO SUPLICY

A eleição do novo presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, uma das mais importantes decisões que serão tomadas no 10º Encontro Nacional no próximo fim-de-semana, deve ser vista como saudável e própria para um partido que tanto tem acertado na formação e renovação de pessoas em postos-chaves. Lula está certo em sua intuição de se afastar da presidência do partido, ainda que, se desejasse, seria reeleito por consenso.
O próprio Lula tem mostrado que é positivo para as organizações a passagem do bastão. Depois de seis anos na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema ele passou a presidência para Jair Meneguelli, que a passou para Vicentinho e este para Guiba, abrindo espaço para o surgimento de novas lideranças.
Coube a Lula assumir outras responsabilidades, justamente a fundação e a organização do PT.
Por três vezes Lula passou a presidência do PT. Primeiro para Olívio Dutra, depois para Luiz Gushiken e, mais recentemente, para Ruy Falcão, ocasiões em que assumiu candidaturas de grande responsabilidade, como à Presidência da República, dando oportunidade de novas vozes surgirem com maior força no cenário nacional sem que houvesse, em razão disso, qualquer enfraquecimento do PT.
Na Câmara dos Deputados tem sido positiva a experiência de rodízio da liderança. No Senado, ao ser escolhido por consenso em janeiro deste ano para líder da bancada, sugeri e já está acertado que em fevereiro do próximo ano o cargo será ocupado por outro senador do partido.
Todos no partido já deveríamos estar preparados para, no décimo encontro, escolhermos um novo presidente. Afinal, votamos em Lula para presidente do Brasil. Se tivesse ganho, não poderia estar exercendo a presidência do PT.
Qualquer que seja o novo presidente, ele vai estar consciente, tal como ocorreu nas três vezes anteriores, que Lula continuará sendo o presidente-fundador do PT. Feliz o partido que tem essa voz que a qualquer momento poderá se pronunciar sobre quaisquer fatos.
É de se esperar que o faça em consonância com o novo presidente, mesmo que em alguns momentos sua opinião traga luz própria.
Estamos vivendo um momento propício, após uma das mais significativas campanhas presidenciais deste país, para dar a Lula as condições mais adequadas de se preparar ainda melhor e realizar projetos que considere importantes.
Como presidente do PT, Lula precisaria estar respondendo no cotidiano a todos os problemas que surgirem nos governos do Distrito Federal, Espírito Santo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia e demais cidades onde o PT tem responsabilidade executiva.
Sem a burocracia da presidência, Lula terá melhores condições de permanecer por períodos mais longos nas mais diversas regiões do Brasil, como pensa em fazer, começando pelo Vale do Jequitinhonha, estudando a realidade em que vive o povo, debatendo os seus problemas, realizando diagnósticos e propondo soluções.
Tem a intenção de visitar lugares onde o partido é menos presente para fomentar a sua organização. Fica ainda aberta a possibilidade de Lula poder visitar alguns países, quando achar necessário, atendendo a inúmeros convites que tem recebido, inclusive de universidades, para aprofundar estudos, conhecer experiências e debater os problemas de outros povos.
A interação de Lula com intelectuais e instituições de ensino superior no Brasil, cada vez mais frequente, poderá ser melhor programada. É preciso que o PT considere também que, do ponto de vista pessoal, será importante que Lula possa ter mais disponibilidade para si próprio e sua família.
Lula estará assim em condições ainda melhores do que nos anos de 1982, 1986, 1989 e 1994 para disputar qualquer cargo político, desde uma prefeitura até a Presidência da República, seja em 1998 ou quando ele e o PT acharem mais conveniente.
A intuição de Lula mostrou que estava certo quando decidiu não se candidatar a deputado federal em 1990 para realizar outras atividades fora do Parlamento -conhecer melhor o Brasil e ajudar a organizar o PT.
Acredito que tenha acertado de novo em sua percepção de que, passando o bastão, poderá dar outro salto de qualidade, de maior profundidade, em benefício próprio e do PT.

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