São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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'Vestibular' pode mudar os convocados

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O Campeonato Brasileiro será o teste decisivo dos jogadores candidatos a integrar a seleção brasileira que disputará o Torneio Pré-Olímpico, em fevereiro e março do ano que vem.
O opinião é do técnico Mario Jorge Zagallo. Ele dirigirá a seleção que tentará uma das duas vagas sul-americanas no torneio de futebol da Olimpíada de Atlanta (EUA), que será realizada em julho e agosto de 96.
Para participar da seleção pré-olímpica, os atletas têm de ter nascido a partir de 1º de janeiro de 1973.

Folha - Que jogadores com idade olímpica devem se destacar no Campeonato Brasileiro?
Mario Jorge Zagallo - Alguns que já estiveram na seleção principal: Juninho (São Paulo), Sávio (Flamengo), Souza, Marques, Zé Elias, Marcelinho Souza (os quatro do Corinthians), Narciso (Santos), Adriano (Sport), Dida (Cruzeiro), Danrlei, Roger (os dois do Grêmio), Amaral (Palmeiras), André (São Paulo), Zé Roberto (Portuguesa) e Bruno (Vasco).
Folha - O senhor vai viajar muito para assistir a partidas e observar jogadores?
Zagallo - Se precisar, vou a São Paulo e Minas. Mas serão poucas vezes. Se eu fico em casa, em vez de ir ao estádio, posso ver mais jogos, pela TV.
Mesmo em relação aos jogos no Rio, onde moro, o melhor é ficar em casa para ver mais partidas.
Já sei quem são os jogadores que quero ver, onde quero tirar conclusões. Se bem que, às vezes, vou ver um e descubro outro.
Folha - Quem, por exemplo?
Zagallo - Descobri que o Leandro (Vasco) poderia servir à seleção principal na função que eu quero. Ele não tem mais idade para a Olimpíada.
Folha - O senhor vai concentrar as análises nos jogadores com idade para disputar o Pré-Olímpico?
Zagallo - A minha prioridade é o Pré-Olímpico. Mas tenho que ver também jogadores para a seleção principal. Temos um jogo difícil contra a Argentina em novembro.
Folha - Como é o seu método de trabalho para acompanhar e analisar jogadores?
Zagallo - Tenho um mapa com os jogadores de todos os times. Tento ver os atletas com estilo para se enquadrar no que eu penso para a seleção.
Folha - Pode dar exemplos?
Zagallo - Vi no Santos que, jogando de meia, mesmo numa função diferente, Giovanni poderia fazer o que quero na seleção.
Também vi, nos clubes, que os meias defensivos Zé Elias (Corinthians) e Leandro (Vasco) poderiam se adaptar a uma função diferente na seleção.
Folha - A sua lista de jogadores para o Pré-Olímpico está quase fechada?
Zagallo - Não, pode mudar muito. O Campeonato Brasileiro é a grande oportunidade dos jogadores em termos de seleção.
Depende de como eles forem no campeonato. Veja o exemplo do Zé Roberto (Portuguesa), lateral-esquerdo.
Folha - Ele jogou quase toda a partida da seleção principal contra a Coréia do Sul, no dia 12.
Zagallo - Eu não podia convocar outros laterais, que estavam jogando por seus clubes: Roberto Carlos (Palmeiras), Silvinho (Corinthians) e Roger (Grêmio). Levei o Zé Roberto.
Folha - Como o senhor o descobriu?
Zagallo - Ele já tinha participado de seleções brasileiras de jovens. Aqui há comunicação entre as comissões técnicas. Já tinham me falado dele.
Folha - O André (São Paulo) pode deixar de ser o lateral-esquerdo da seleção pré-olímpica?
Zagallo - Ele se machucou. Aliás, esse jogador tem se machucado muito. Agora, apareceu o Zé Roberto. Ele pintou e foi bem, agarrou a chance.
Folha - O Brasil foi campeão mundial em 1994 e já há renovação acentuada na seleção. Como avalia a nova geração?
Zagallo - Aconteceu de a geração que pintou ser titular nos clubes. Coincidiu com uma fase de transição na seleção.
Folha - E se os jovens fossem reservas nos clubes?
Zagallo - Seria mais difícil para mim. Jogador na reserva chega fora de forma e sem ritmo à seleção.
Folha - Jogadores reservas nos clubes serão prejudicados na convocação para o Pré-Olímpico?
Zagallo - É claro que eles saem perdendo em relação aos que são titulares nos clubes. Não sei o que houve, por exemplo, com o Flávio Conceição (Palmeiras).
Ele era volante (meia defensivo), virou lateral na direita e na esquerda e, depois, segundo homem de meio-campo.
No final, o Carlos Alberto Silva (técnico) o tirou do time. E sempre me disseram que o Flávio Conceição era melhor do que o Amaral.
Folha - Que nota o senhor daria para a seleção pré-olímpica?
Zagallo - Ela é muito boa no papel. Mas ainda não teve condições de provar isso em campo. Já vi muitos times ótimos no papel que não funcionavam em campo.
Folha - Dirigida pelo senhor, ela só jogou uma vez, em 94, vencendo a seleção chilena por 5 a 0.
Zagallo - É, foi bem, mas agora não tem o Amoroso (meia-atacante do Guarani), que se contundiu, e muita coisa mudou, como a zaga. Agora ela é formada pelo Narciso e pelo Adriano. Naquela época, os titulares eram o Argel (Internacional-RS) e o Gélson (Cruzeiro).
Folha - Quais são os clubes favoritos ao Brasileiro?
Zagallo - Palmeiras e Corinthians já estão aí, com times fortes. O São Paulo não fica atrás.
O Grêmio é competitivo. O Flamengo tem um bom ataque. Se acertar lá atrás, pode crescer. O Vasco acabou de ganhar um torneio na Espanha, está se armando.
Folha - Não há um favorito destacado?
Zagallo - Quem começar bem, ganhando uns dois jogos, embala, pega moral e vai embora. O pequeno vira grande. Há muito equilíbrio.
Folha - O senhor acredita que o Campeonato Brasileiro de 95 será melhor que o de 94?
Zagallo - Tudo leva a crer que sim. Há mais times em condições de vencer.
Além dos clubes que eu já citei, há o Botafogo, muito bem, o Fluminense, que melhorou depois de conquistar o Campeonato do Rio, a Portuguesa, que impressionou no Campeonato Paulista. O Cruzeiro e o Atlético-MG devem fazer excelente campanha.
Há muitas equipes fortes, o futebol está mais badalado.
Folha - Como assim?
Zagallo - O tetracampeonato mundial popularizou o futebol.

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