São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 1995
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Sam Raimi leva fantástico ao Oeste

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: Rápida e Mortal
Produção: EUA, 1995
Direção: Sam Raimi
Elenco: Sharon Stone, Gene Hackman, Russell Crowe
Onde: a partir de hoje nos cines Metro 1, Gemini 2 e circuito

No passado, cada faroeste era uma exaltação da lei, de uma moral que definia e ilustrava a conquista do Oeste americano e suas consequências (a constituição dos EUA, tal como o conhecemos).
Desde a Guerra do Vietnã, esse conjunto de crenças entrou em crise. O faroeste afundou. Só sobreviveu graças à intervenção dos italianos -Sergio Leone à frente-, que já não tratavam mais de um Oeste real, mas de um puro mito.
Esse pequeno apanhado é indispensável para falar de "Rápida e Mortal", o faroeste de Sam Raimi, ou o faroeste com Sharon Stone -à vontade do freguês. Sabemos que, antes dele, Clint Eastwood sustentou o gênero quase sozinho, até ganhar o Oscar de 1992 com "Os Imperdoáveis".
Daí por diante, surgiu uma série de filmes constipados, que mal arcavam com o rótulo de faroeste -que pretendiam ressuscitar-, o mais nobre dos gêneros históricos do cinema americano.
E por uma razão: ao contrário da era clássica, hoje um faroeste precisa criar sua própria lei para existir. Tem de dialogar com o passado, flertar com todos os clichês, sem submeter-se a eles.
E quando se fala em "lei", aqui, é no sentido moral da palavra: não existe mais uma moral dada, cada um deve buscá-la em si mesmo. É o que faz Ellen (Sharon Stone) ao chegar a Redemption para um torneio de pistoleiros.
A disputa é promovida pelo chefão da cidade, o arquivilão Herodes (Gene Hackman). Mas Ellen tem razões muito pessoais para enfrentá-lo (e, se possível, matá-lo).
A história é, à primeira vista, o que há de vagabundo, de previsível.
O encadeamento dos planos leva a temer, no início, por um sub-"western spaghetti". Mas, se não olhar de modo demasiado rápido (e mortal) para o filme, o espectador notará que, neste vazio, Raimi constrói um edifício digno de um Brian DePalma: disseca o faroeste, do classicismo a Clint, revitaliza-o com imagens fortes.
E, por fim, incorpora ao espaço e à trama traços de outro gênero, o fantástico. Através dele, lança um novo olhar, ao faroeste, à história e à mitologia. Como se buscasse uma América que ainda não existe. E sobre a qual Sam Raimi parece dizer: ainda precisa se descobrir.

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