São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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Veto à imprensa ;Lula

CARLOS EDUARDO ALVES
ENVIADO ESPECIAL A GUARAPARI

PT acha fraude na escolha de delegados
Encontro que elegerá novo presidente do partido começou com intervenção em diretório da Paraíba por falsificação
O Encontro Nacional do PT começou ontem em Guarapari (ES) com denúncias de fraude na escolha dos delegados que vão eleger o sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva na presidência do partido.
O Diretório Nacional do PT decidiu decretar intervenção no diretório paraibano do partido. Laudo do Departamento de Criminalística da Secretaria de Segurança da Paraíba comprovou 35 casos de falsificação de assinaturas de filiados em convenções municipais naquele Estado.
A tendência ``centrista" Articulação denunciou as irregularidades e conseguiu a intervenção no diretório, que era dirigido pelos grupos mais à esquerda do partido. Mas a Articulação recorreu ao plenário da convenção nacional contra a decisão de impugnar apenas 2 dos 11 delegados paraibanos.

Veto à imprensa
A direção nacional do PT tentou impedir que a imprensa presenciasse a discussão sobre a fraude. Seguranças barraram a entrada de repórteres. O veto só foi quebrado após a intervenção do deputado estadual paulista Rui Falcão, vice-presidente do PT.
``Não sei o motivo da proibição, mas o partido não precisa dar satisfação se abre ou não a porta", afirmou Gilberto Carvalho, secretário-geral do PT.
Na defesa da impugnação completa da chapa de delegados da Paraíba, a Articulação apelou para o discurso pela ética. Antônio Carlos Pereira, candidato derrotado ao governo mineiro em 94, disse que o partido não pode ``varrer o lixo para baixo do tapete".
Pereira afirmou ainda que processos fraudulentos idênticos ocorreram em vários Estados. ``Nós estamos fraudando a nossa história", declarou.
Gilberto Carvalho, na defesa da completa impugnação do direito de voto aos delegados paraibanos, disse que houve ``estelionato" na eleição dos convencionais questionados pela ala ``centrista".
Joaquim Soriano, da direção nacional do PT e da tendência trotskista Democracia Socialista, disse que os nove delegados paraibanos foram legitimados por votos.
Os casos em que houve fraude, afirmou Soriano, correspondem aos dois convencionais impugnados.
Avenzoar Arruda, presidente do diretório que está sob intervenção, declarou que não teve tempo para preparar sua defesa.
Até as 19h, o recurso não havia sido submetido ao plenário. Os nove delegados ganham importância devido ao equilíbrio esperado se ocorrer a disputa entre José Dirceu e Plínio de Arruda Sampaio pela presidência do partido.
A candidatura de Plínio, no entanto, era tida ontem como improvável. O ex-deputado tem dito interlocutores que não pretende concorrer.
Ele está sendo pressionado pelos grupos mais radicais do partido a participar da disputa de amanhã.
A maioria da esquerda e toda a extrema esquerda do PT decidiram apresentar uma única tese (texto que norteia a ação do partido) à convenção.
O grupo de Dirceu terá que se aliar ao de José Genoino para evitar que o texto das tendências radicais seja aprovado hoje.

Lula
Luiz Inácio Lula da Silva deixou a presidência do PT com um discurso de 40 minutos, previamente preparado por sua equipe, em que o ponto mais forte foi o apelo pelo fim da disputa interna que está dilacerando o partido.
``Pelo amor de Deus, não coloquem a disputa por instâncias como começo, meio e fim", apelou Lula aos cerca de 400 convencionais que lotavam o auditório do Sesc, local da reunião petista.
Lula criticou, sem citar nomes, ``os que ficam difamando companheiros como inimigos de classe" e em vários outros trechos de sua fala apelou para o fim da guerra interna.
Para Lula, o personalismo também está atrapalhando o partido. ``Alguns estão preferindo a corte e não suportam o cheiro do povo".
Lula está desencantado com a situação do PT. Nas conversas reservadas, tem citados vários episódios de intolerância que, a seu ver, podem comprometer o futuro da legenda.
A outra parte do texto de Lula foi reservada a críticas ao neoliberalismo e ao governo Fernando Henrique Cardoso.

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