São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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Delegado encontra elo com traficantes

ROBERTO PEREIRA DE SOUZA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O delegado da Polícia Federal no Rio de Janeiro Antonio Carlos Rayol esclareceu um enigma que até o final de julho era conhecido pelo nome Mr. Delson.
Em uma das páginas do processo que apura a venda ilegal de granadas ao Irã, aos Contras da Nicarágua e aos traficantes do Rio de Janeiro (onde são denunciadas sete pessoas ligadas às empresas Explo e Jabour), há um telegrama enviado de Colombo, capital do Sri-Lanka, sudeste da Índia.
A mensagem de 14 de novembro de 85 foi recebida nos escritórios da Explo, em Lorena (SP), por Deusiana, secretária do tenente-coronel Jacaúna Cordeiro, um dos sete denunciados pela venda ilegal, na época diretor comercial da Valparaíba (empresa da Explo).
O intermediário de nome Jayanath pede que Jacaúna envie 9 milhões de litros de álcool etílico para as destilarias locais, "de acordo com as condições apresentadas por Mr. Delson.
Mas o assunto principal do telex é mesmo a compra de 100 mil granadas (CEV 03.12.83, o mesmo produzido em nome da Líbia). De quebra, 540 petardos foram pedidos e, quase certo, enviados fora do lote principal, a custo zero e sem documentação de exportação.
O contato da Explo com o governo do Sri-Lanka era feito por "Mr. Delson. Há 20 dias, o delegado Rayol descobriu que Delson Fernando di Susa, 41, era empregado da Explo.
Além de recibos de salários, os policiais encontraram quatro granadas de uso exclusivo das Forças Armadas, espoletas elétricas, quatro carregadores provavelmente para fuzil AR-15.
Foram encontrados ainda talões de cheques do Barnett Bank (Miami) e do Banco do Brasil, agência 3258-1, Recife.
A PF já sabe que foi Delson quem exportou (de Miami) ilegalmente para o Brasil 420 quilos de munição que foram apreendidos com o coronel Latino Fontes.
No dia da apreensão, o traficante Rubernil Tomas acabou sendo morto pelos policiais.
Rubernil também era sócio da empresa de importação WML, que mantinha relações com outra importadora, a CBR.
Os sócios da CBR eram o delegado Heckel Raposo, que foi subsecretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro no governo Moreira Franco, e o advogado Carlos Eduardo Saddock de Sá Motta, um dos sete indiciados no caso das granadas ao Irã-Contras-narcotráfico. Até 92, Saddock era sócio e acionista da Jabour.
Um outro documento apreendido pela PF de Recife revela parte das atividades internacionais de "Mr. Delson, que está foragido e com prisão preventiva decretada por suspeita de abastecer traficantes do Rio de Janeiro.

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