São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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Predador quer exibir `classe' hoje à noite

JON SARACENO
DO ``USA TODAY"

Todo mundo ouviu o slogan: ``Ele está de volta".
Mas ninguém sabe quem é o Mike Tyson que subirá hoje ao ringue e, talvez, na escala social dos EUA.
É um novo homem que saiu da prisão em março e que quer de novo ser campeão mundial dos pesados? Ou uma mera reinvenção para o consumo do público?
Quatro anos após sua última luta e três anos e meio após sua condenação por estupro, Tyson ressurge contra o que seu empresário, Don King, chamou de ``ninguém" -Peter McNeeley.
Quando aparecer na arena montada no MGM Grand Hotel, em Las Vegas, espera-se a aclamação do público de 16 mil pessoas.
O lutador continua identificado como um poderoso símbolo de raça, dinheiro, sexo e brutalidade.
Para muitos, ele está espiritualmente elevado, orgulhoso de seus atos, um homem que despreza sua acusadora (Desirée Washington), o sistema judiciário ``racista" e os promotores que o manipulam.
Para outros, Tyson é um cruel predador sexual, um hedonista, um arrogante trem humano, pronto para descarrilar novamente.
Hostilidade gratuita? Tyson põe a culpa na mídia. ``Ela trabalha para me destruir."
E se defende. ``Não sei nada sobre ser herói. Sou apenas um cara da sarjeta que tem condições de fazer algo de bom."
Tyson diz que a prisão forçou-o a mudar de atitude. ``Ele quer ser uma pessoa de classe", diz Rory Holloway, amigo-empresário.
Já Ted Atlas, treinador de Tyson quando amador, afirma que ``desde que foi criado, ele nunca foi sincero". Para Atlas, o pugilista representa, como um ator.
Tyson parece mesmo ter ensaiado. Cita escritores como Hemingway e Voltaire e até figuras menos pomposas, como o ex-vice presidente dos EUA Dan Quayle.
Bastante para quem não conseguiu a graduação no ginásio.
``Hemingway era um facista, um porco racista. Mas estava certo quando disse que `homens não foram feitos para serem derrotados, apenas para morrer'. Quanto mais você perseverar, mais você pode conseguir."
É esta força de vontade, a de Mao Tse-tung (líder comunista chinês), a de Arthur Ashe (tenista norte-americano morto pela Aids), tatuados em seus braços, que Tyson quer mostrar hoje à noite.

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