São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995![]() |
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Pacto une facções criminosas do Rio
SERGIO TORRES
O principal resultado deste acordo seria a paz vigente há mais de três meses nos morros e favelas da região metropolitana do Rio. A última ``guerra" entre quadrilhas de traficantes registrada pela polícia aconteceu no início de maio deste ano, no morro dos Prazeres, em Santa Tereza (centro). O delegado Reginaldo Guilherme da Silva, 38, diretor da DRE, diz que, pelo Comando Vermelho, selaram a pacificação os ``chefões" Ernaldo Pinto de Medeiros (Uê), Jorge Luiz de Souza e Romildo Souza da Costa, o Miltinho do Dendê. Pelo Terceiro Comando, teria negociado a sua maior liderança: José Roberto da Silva Filho, o Robertinho de Lucas. O diretor da DRE credita a união de inimigos históricos ao que chama de ``estado de necessidade". ``A polícia está apertando o cerco. Eles acham que, agindo de forma isolada, estavam facilitando o trabalho da polícia e, por isso, resolveram se unir", diz Guilherme da Silva. Drogas e armas Além do fim das disputas pelo controle das ``bocas" (pontos de venda) de cocaína e maconha, os traficantes teriam criado uma espécie pólo distribuidor de drogas para favelas desabastecidas. Para comprar, os traficantes continuam se valendo do ``matuto" -responsável pela aquisição da droga no mercado produtor e pela entrega na favela. Quando a liderança de uma favela encontrasse dificuldades para obter a droga, ela recorreria ao pólo distribuidor, que funcionaria sob a administração de Jorge Luiz de Souza, apontado pela polícia como líder do tráfico na favela de Acari (zona norte). Pelo acordo entre os ``chefões", caberia a Jorge Luiz de Acari fornecer droga para as ``bocas" de favelas onde houvesse carência do que é, no jargão do tráfico, chamado de ``mercadoria". Pela aliança entre os ``chefões" do CV e do TC, também teria sido acertada a criação de um pólo para distribuição de armamentos. A função de Miltinho seria emprestar e alugar metralhadoras, pistolas, revólveres, escopetas, granadas e fuzis para criminosos de toda a cidade. Em troca, ele receberia parte do dinheiro arrecadado na ação praticada pela quadrilha que usou as armas cedidas. O dinheiro seria aplicado em uma espécie de ``fundo", que seria responsável pela aquisição de novos armamentos para as facções do narcotráfico carioca. Apreensão sem presos O secretário de Segurança Pública do Rio, Nilton Cerqueira, 65, achou estranho o fato de nenhum traficante ter sido preso na operação que resultou, na quarta-feira, na apreensão de 500 kg de maconha na favela de Parada de Lucas (zona norte). Após ser informado sobre a operação, Nilton Cerqueira fez a assessores a seguinte pergunta: ``Será que foi Papai Noel quem colocou tudo aquilo (a maconha) lá?". Ele mesmo respondeu: ``Não deve ter sido". Quando a polícia chegou à favela, foram soltos fogos para alertar os traficantes, não havendo confronto. Texto Anterior: Empregada morta tinha dois seguros; Corpo de estudante é identificado após 2 anos; Estelionatários vendem publicações do TCU Próximo Texto: Casa é pintada e confunde polícia Índice |
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