São Paulo, sábado, 19 de agosto de 1995
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Justiça espanhola investiga o premiê

ELIZABETH NASH
DO "THE INDEPENDENT", EM MADRI

O Tribunal Supremo espanhol (a mais alta instância da Justiça) declarou-se ontem competente para investigar acusações de que o premiê, o socialista Felipe González, e três deputados de seu partido autorizaram uma guerra suja contra suspeitos bascos por esquadrões da morte antiterroristas do GAL (Grupo Armado de Libertação), entre 1983 e 1985.
A corte tem poderes para suspender a imunidade parlamentar dos quatro, e sua decisão abre caminho para um possível processo criminal contra González.
A decisão dos juízes suscita dúvidas sobre a possibilidade de o governo, já desacreditado, conseguir sobreviver até o final do ano.
Os juízes fundamentaram sua decisão num relatório redigido pelo juiz Baltasar Garzon. Além do premiê, Garzon indicou o ex-ministro da Defesa Narcis Serra, o ex-ministro do Interior José Barrionuevo e o ex-líder socialista basco José Maria Benegas como responsáveis pelos mercenários do GAL que mataram mais de 20 pessoas nos primeiros anos do governo socialista.
O relatório de Garzon baseou-se em grande parte nas confissões do ex-líder socialista da Província basca de Viscaya Ricardo Garcia Damborenea, expulso do partido em 90, e do ex-diretor de segurança Julian Sancristobal.
Interrogado por Garzon no mês passado, Damborenea disse ter certeza de que González e seus ministros haviam autorizado a ação porque ele próprio mantinha González informado.
O premiê qualificou as alegações de seu ex-subordinado como "falsas" e "ridículas".
A corte ainda terá que decidir se González e seus colegas estão implicados no caso GAL. Agora os juízes irão retomar suas férias de verão interrompidas, retornando ao trabalho em 4 de setembro, quando deverão indicar um juiz para acompanhar o caso.
A imprensa especula sobre possíveis acusações. Entre elas: organização de grupo terrorista armado, punível com até 12 anos de cadeia; malversação de fundos públicos (20 anos); e detenção ilegal e conspiração com intento de cometer assassinato (até 17 anos).
Apesar da possibilidade de seu líder vir a ser acusado de vínculos com terrorismo de Estado, o porta-voz do Partido Socialista insistiu, na quinta-feira à noite, que González seria "o melhor candidato" nas eleições gerais, que foram adiantadas para a próxima primavera (outono no Brasil).

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