São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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José Dirceu vence em eleição tumultuada

CARLOS EDUARDO ALVES
ENVIADO ESPECIAL A GUARAPARI

Um tumulto com tentativas de agressão, choro e a paralisação dos trabalhos marcou a eleição ontem do ex-deputado José Dirceu para a presidência do PT em substituição a Luiz Inácio Lula da Silva.
A confusão foi gerada por um discurso em que César Benjamin, do grupo "Hora da Verdade" e defensor de Hamilton Pereira, candidato dos setores de esquerda e extrema-esquerda do PT, disse, em tom dúbio, que "parte da campanha" de Dirceu ao governo paulista em 94 fora financiada pela construtora Norberto Odebrecht.
A reação do grupo de Dirceu foi imediata. Enquanto o ex-deputado, sentado, chorava, alguns de seus adeptos avançaram em direção a Benjamin. Lula também chorou, assim como outros dirigentes.
Integrantes da "Hora da Verdade" se solidarizaram com Dirceu. O senador Eduardo Suplicy (SP), que votou no ex-deputado, gritou para César Benjamin: "Você quer acabar com o PT".
A "acusação" de Benjamin refere-se a doações legais, mas questionadas eticamente por alas do PT, à campanha de Dirceu.
Segundo prestação de contas da campanha petista à Justiça Eleitoral, a Odebrecht foi responsável pelo financiamento de R$ 478 mil (42%) da candidatura do partido.

Repúdio
Constrangidos pela fala de Benjamin, alguns membros da "Hora da Verdade" foram à tribuna defender Dirceu.
O deputado Arlindo Chinaglia, presidente do diretório paulista do PT em 94 e eleitor de Pereira, disse que "não pode haver dúvida sobre a dignidade de Dirceu".
O próprio candidato de Benjamin disse que suas palavras "não reproduzem" o que ele (Pereira) pensa de Dirceu.
Chorando, o ex-deputado afirmou que "nunca imaginei que fosse acusado dentro do PT". Para ele, o episódio mostrou que "é preciso tirar o ódio do PT".
Assustado com o efeito de suas palavras, Benjamin ficou protegido por seguranças em um canto do plenário. Ensaiou um pedido de desculpa. "Acho Dirceu digno, mas acho também que um partido não pode ter temas tabus".
Alguns minutos mais tarde, Benjamin foi irônico ao responder se estava arrependido. "Vou pensar", disse. Valter Pomar, líder do grupo "Hora da Verdade" recusou-se a responder se a crítica de seu aliado ao novo presidente petista era endossada por sua corrente. Depois, limitou-se a dizer que houvera um "mal-entendido".
A revolta com o procedimento de Benjamin levou Lula, pela primeira vez numa convenção do PT, a encaminhar a defesa de uma candidatura. Ao lado de Dirceu e Pereira, deu a sentença: "Acho importante que o presidente tenha expressão pública e o Zé tem mais".
No discurso por Dirceu, o ex-presidente do PT lembrou dos casos Lubeca e Nutrícia, em que o partido ou petistas foram acusados de receber irregularmente recursos dessas empresas para financiar a campanha de Lula à Presidência da República em 89. As denúncias não foram comprovadas.

Executiva
Dirceu teve 215 votos (54,02%) e Pereira 183 (45,98%). O novo presidente petista, do grupo centrista "Articulação", teve ainda o apoio da maioria da tendência "Democracia Radical" (direita do PT) e de um agrupamento liderado pelo deputado paulista Rui Falcão e pelo ex-deputado fluminense Vladimir Palmeira.
Na votação para a nova direção, a distribuição de vagas ficou assim: centro, sete; esquerda e extrema-esquerda, oito; direita, duas; esquerda próxima a Dirceu, uma.
O novo presidente também tem lugar na Executiva. Além disso, os líderes das bancadas no Senado e na Câmara têm ligações com Dirceu e votos na Executiva. Com isso, quebra-se uma hegemonia de dois anos dos grupos radicais.
A ex-prefeita paulistana Luiza Erundina será convidada pela "Democracia Radical" a integrar o Diretório Nacional do PT. No diretório, as forças que apoiaram Dirceu têm 53,69% dos votos.
Os vices de Dirceu devem ser Aloizio Mercadante, Arlindo Chinaglia e José Genoino. Luiz Dulci fica com uma vice ou com a secretaria-geral. Cândido Vaccarezza é o provável secretário de Organização e Gilberto Carvalho é cotado para a Comunicação.

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