São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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Para Souto, 'politização' fez governo mudar negociações

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O governador da Bahia, Paulo Souto (PFL), 51, inicia a semana jogando em duas frentes. Ao mesmo tempo em que promete intensificar os contatos com empresas privadas que estariam interessadas em adquirir o controle acionário do Banco Econômico, Souto vai despachar para Brasília dois interlocutores para negociar com o governo federal o fim da intervenção no banco.
Um deles é o secretário estadual da Fazenda, Rodolpho Tourinho.
Para Souto, a "politização do caso fez com que o governo mudasse as exigências para a estadualização do banco. A seguir, trechos da entrevista concedida pelo governador à Agência Folha no Palácio de Ondina (residência oficial do governo), no sábado à tarde.

Agência Folha - Depois de uma semana de discussões e pressões políticas, o senhor acredita em uma solução favorável para tirar o Econômico da crise?
Paulo Souto - Acredito, até porque existe um compromisso do presidente Fernando Henrique Cardoso e do ministro Pedro Malan para encontrar esta solução. Como o funcionamento do Econômico é muito importante para a nossa economia, o governo baiano também vai perseguir a solução.
Agência Folha - Quais são as propostas concretas do governo baiano para salvar o Econômico?
Souto - São as mesmas apresentadas na negociação com o presidente Fernando Henrique Cardoso e os ministros da área econômica. Sugerimos desapropriar as ações dos ex-sócios e proprietários, procurar empresários interessados em investir no banco e reprivatizá-lo o mais rápido possível. Jamais passou pela cabeça do governo baiano estadualizar o Econômico.
Agência Folha - Então o senhor não concorda com a proposta feita pelo BC para o governo baiano injetar R$ 1,8 bilhão no banco e tirá-lo da intervenção?
Souto - Na negociação inicial com o governo federal nunca se falou em capitalização do banco com recursos estaduais. O governo baiano não tem e, se tivesse, não colocaria recursos dessa magnitude no Econômico.
Agência Folha - Mantida esta proposta do BC, o senhor descarta a possibilidade de o governo baiano desapropriar as ações dos ex-sócios e diretores do Econômico?
Souto - Claro que sim. Não podemos pensar em desapropriar ações enquanto o governo federal continuar com esta exigência que não fazia parte do acordo inicial.
Agência Folha - O senhor acredita, então, que houve um recuo do governo federal em relação à proposta do governo da Bahia para tirar o Econômico da crise?
Souto - A proposta inicialmente acertada entre o economista Daniel Dantas, representando a Bahia, e o governo federal, foi modificada. Agora, existem novas condições que não estavam estabelecidas no acordo inicial. Não sei dizer que motivos teriam feito o governo federal mudar a proposta, mas é possível que a politização do problema tenha causado isso.
Agência Folha - Como o senhor analisa a participação do senador Antônio Carlos Magalhães no caso Econômico?
Souto - O senador entrou na briga para recuperar o Econômico com o único propósito de defender uma causa que considera importante para a Bahia. Afinal, o Banco Econômico tem mais de 50% de seus funcionários e correntistas que trabalham e moram no Estado. Além destes fatores, é bom lembrar que uma parcela importante da economia baiana depende do funcionamento do banco.
Agência Folha - O senhor acha que empresas podem reduzir os investimentos na Bahia caso o banco Econômico seja liquidado?
Souto - Uma eventual liquidação vai provocar reflexos negativos na economia baiana, mas não acredito que investimentos futuros possam ser comprometidos. A Bahia tem uma economia estável e organizada. Já temos confirmados investimentos de R$ 3 bilhões nos próximos anos nos setores petroquímico, agro-industrial, de papel e celulose.
Agência Folha - Como o senhor analisou a decisão do Banco Central de autorizar o pagamento do Banco Econômico no exterior?
Souto - Esta decisão me dá a garantia de que o Banco Central vai agir da mesma maneira com os correntistas brasileiros.
Agência Folha - O senhor defende uma punição rigorosa para os eventuais culpados pelo rombo do Banco Econômico?
Souto - Isto é uma obrigação do Banco Central, que tem o poder de fiscalizar todas as instituições financeiras do país. A sociedade brasileira exige que os eventuais culpados sejam exemplarmente punidos em respeito a milhares de pessoas que sempre confiaram no banco.
Agência Folha - Inclusive com o leilão de bens dos ex-sócios e proprietários do Econômico?
Souto - Acho que a lei existe para ser cumprida. O que não pode acontecer são milhares de correntistas do Econômico amargarem um prejuízo enorme em consequência de má administração. Se a lei prevê o leilão de bens para saldar dívidas, não vejo motivo para isto não acontecer, caso uma solução não seja encontrada.
Agência Folha - O Banco Central prevê pagar os correntistas e poupadores na próxima quarta-feira. O senhor acredita que até lá os governos federal e baiano encontrarão uma solução?
Souto - Não sei.
Agência Folha - O senhor disse que o governo baiano não tem R$ 1,8 bilhão para injetar no Econômico. Hoje, qual é a situação financeira da Bahia?
Souto - A Bahia é um Estado com suas finanças saneadas e com capacidade de investimentos com recursos próprios.
O Estado gasta entre 60% e 65% da arrecadação com a folha de pagamento, 10% de custeio e 12% com o pagamento da dívida.

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