São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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Ex-campeão voltou com o seu olhar demolidor

EDUARDO SUPLICY
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mike Tyson começou a vencer antes da luta.
Peter McNeeley entrou no ginásio com seu roupão cobrindo a cabeça, pulando e dançando como se fosse realizar um show de rock, enquanto Tyson entrou mostrando sobriedade, com uma toalha branca, de inspiração provavelmente muçulmana, com um corte bonito que permitia ao público ver nos seus ombros, no seu tórax, seu extraordinário estado atlético.
Logo que o juiz chamou os contendores para dar as instruções, desenvolveu-se o importante ``round" preliminar dos olhares.
McNeeley ficou balançando o corpo, olhando primeiramente para baixo, enquanto Tyson resolveu olhar de forma muito assertiva para o seu contendor, acompanhando os olhos de McNeeley, cujo corpo oscilava como um pêndulo.
Quando este percebeu a firmeza do olhar de Tyson, resolveu esboçar um sorriso -um tanto sem graça, mas de quem percebia a superioridade do adversário.
McNeeley imaginou que, tomando a iniciativa dos primeiros golpes, poderia atingir Mike Tyson. Resolveu avançar com toda a energia e velocidade.
Deu-se conta, então, de que Tyson estava extremamente bem preparado e verificou que não seria fácil derrubar um campeão capaz de desferir seis golpes violentos em apenas um segundo.
Atingido por um soco certeiro, que resultou na primeira queda, resolveu, ao se levantar, sair correndo, como se quisesse ir embora, quando o juiz o abraçou para dizer: ``Não, a luta é aqui mesmo. Você tem que continuar".
Daí, percebeu que teria que enfrentar mesmo aquele que é um dos maiores lutadores da história do pugilismo. E resolveu dar tudo de si outra vez.
Mas foi então que Tyson deu outra mostra daquilo que é uma saraivada de socos muito bem concatenados. Pôde-se perceber que a potência de seu soco vinha desde a postura no tablado, passando por todo o corpo para terminar no corpo e no rosto de McNeeley.
Assim, em apenas 1 minuto e 29 segundos, Mike Tyson deu nova vida àqueles que estavam tatuados em seus braços, Mao Tse-tung e Arthur Ashe.
Tyson está consciente de que, após a vitória, poderá ganhar bolsas ainda maiores em suas próximas lutas, diante de adversários mais temíveis. Mais do que isso: preparou-se para ser um homem novo, cujos gestos e ações, se ele não perder novamente a cabeça, poderão se tornar exemplos para o bem, se assim o desejar.

Eduardo Matarazzo Suplicy, 54, senador (PT-SP), foi pugilista

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