São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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Festival de curtas traz os melhores do século

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A sexta edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que começa na próxima quinta-feira, vai exibir até 3 de setembro a cifra recorde de 289 filmes de 39 países.
Além disso, o festival -o maior do gênero na América Latina- começa a sair do gueto, ultrapassando as fronteiras de seu berço, o MIS (Museu da Imagem e do Som), e passando a ocupar também o Espaço Banco Nacional de Cinema e o Centro Cultural São Paulo.
Entre as 11 mostras em que se subdivide o evento, a mais fundamental talvez seja a seleção de 30 filmes da série comemorativa``Um Século em Curtas", realizada pelo Festival de Clermont-Ferrand (França), o mais importante do mundo no formato.
Nessa seleção estão curtas-metragens de todas as épocas e continentes, do pioneiro ``O Chalé de Bicicleta" (1895), dos irmãos Lumière, ao brasileiro ``Ilha das Flores" (1989), de Jorge Furtado, passando por preciosidades de cineastas como Griffith, John Ford, Hitchcock e Truffaut.
Outras mostras que fazem referência ao século do cinema são a ``Centenário Brasil" e o programa ``Um Dia Especial na Vida do Cinema", produzido pelo Canal Plus (França/Espanha), com a participação de dezenas de grandes nomes do cinema mundial.
Haverá ainda os tradicionais ``Panorama Brasil", ``Mostra Internacional" e ``Mostra Latino-Americana", reunindo o que há de melhor na produção recente.
Completam a programação uma retrospectiva brasileira de animação e quatro mostras especiais: ``Nova Zelândia", ``Corto" (com curtas italianos, incluindo dois de Antonioni), ``Torben Skjodt Jensen" (principal curta-metragista dinamarquês) e ``Homicídios e Assassinatos".
Torben Jensen é um dos 37 convidados internacionais do festival, que trará também o chileno Miguel Joan Littin, o mexicano Alejandro Cantú e o norte-americano Jay Rosenblat.
Rosenblat é autor de um dos filmes mais interessantes da ``Mostra Internacional", ``O Cheiro das Formigas Queimadas", falso documentário sobre a formação de um sádico americano.

Tecnologia e animação
O japonês Hideo Nakazawa, de quem o MIS exibiu no ano passado ``Dez Segundos Depois", volta a dar um show de tecnologia com ``A Volta e a Parede", alegoria sobre os conflitos culturais filmado em TV de alta definição.
No bem-servido campo da animação, dois destaques são o excepcional ``As Calças Erradas" (1993), vencedor do Oscar da categoria e já exibido numa mostra dedicada ao diretor Nick Park em 94, e o insólito ``Ah Pook Está Aqui", do também britânico Philip Hunt, fantasia macabra inspirada em canção de John Cale.
Na mostra ``Homicídios e Assassinatos", produzida pela agência alemã KurzFilmAgentur, a principal curiosidade é o curtíssimo (dois minutos) ``O Assassino", realizado por Roman Polanski ainda na Polônia, antes da fama.

Brasileiros
Entre os brasileiros inéditos, ou quase, não devem ser perdidos ``Útero", de Christiano Metri, ``Socorro Nobre", de Walter Salles Jr. (leia sinopses ao lado), e ``Onde São Paulo Acaba", de Andrea Seligman, este último um seco e ágil retrato das periferias onde o rap faz fronteira com o crime.
Prometem impacto também o paulista ``A Desforra da Titia", de Reinaldo Pinheiro e Eduardo Quirino, baseado em quadrinhos eróticos de Carlos Zéfiro, e o pernambucano ``That's a Lero Lero", de Lírio Ferreira e Amin Stepple, que recria a passagem de Orson Welles por Recife, nos anos 40.
Serão ao todo 92 sessões, com 8.550 minutos de projeção e entrada sempre franca. Para bancar o evento, a recém-criada Associação Kinoforum recorreu ao patrocínio da Enterpa Engenharia, secretarias municipal e estadual da Cultura, Memorial da América Latina e institutos culturais estrangeiros.

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