São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
Texto Anterior | Índice

Leitosos e carnosos; Atlas; Festa do peão; Renda mínima; País corrupto; Previdência; Sugestões; Ética didática

Leitosos e carnosos
``Interessantes as colocações de Otavio Frias Filho em `Leitosos e carnosos', artigo publicado em 17/8. Há, de fato, uma distância muito grande entre a teoria e a prática, entre o pensar e o agir. Mas não se trata de nenhuma maneira de um abismo, como Frias Filho sustenta. A esse respeito, podem-se citar os casos de São Luiz, rei da França, Abu Bakr, primeiro califa islâmico, ou do imperador budista Açoka, além de alguns outros -poucos é verdade- que souberam conciliar pensamento e ação, e que foram bons em ambos os domínios. Não se pode admitir igualmente que quando pensamento e ação se juntam, como Frias Filho escreveu, a consequência é `monstruosa'. Sim, foi monstruosa no caso de um Lênin, mas não no das grandes figuras acima citadas. Ademais, creio que qualquer um com um pouco de informação histórica não pode comparar, em são juízo -afora os preconceitos religiosos-, o fundador do totalitarismo soviético com Maomé, o fundador da civilização islâmica. Esta última, não nos esqueçamos, engendrou maravilhas arquitetônicas como o palácio de Taj Mahal, na Índia, ou a mesquita de Córdoba, na Espanha (hoje catedral católica); maravilhas literárias como os poemas de um Rumi ou de um Attar; maravilhas intelectuais como os escritos de um Averroés, um Avicena, um Ghazali, ou um Ibn Arabi; além de muitos outros exemplos, os quais não cito para não encompridar demasiadamente esta carta. Em suma, não dá para colocar no mesmo saco gente tão infinitamente diversa como o minúsculo Lênin e o gigante Maomé."
Mateus Soares de Azevedo (São Paulo, SP)

``Estupendo o `Leitosos e carnosos' de Otavio Frias Filho. A classificação de ACM de baronete de província é genial. Só uma correção: quando diz que política é assunto sério demais para ser confiado a universitários, deveria completar: universitários incompetentes."
Dario Albuquerque Passarella (Mairiporã, SP)

Atlas
``Incrível! Após uma espera de `apenas' 193 dias recebi o atlas Folha devidamente encadernado. Quanta eficiência!"
Eduardo Yukihiro Niide (São Paulo, SP)

Festa do peão
``Quero protestar contra a vergonha nacional que é a festa do peão de boiadeiro de Barretos (SP). Esses rodeios são feitos em cima da dor e do sacrifício de indefesos animais. É preciso que as entidades ecológicas e defensoras dos animais ponham fim a esse circo bárbaro e medieval."
Mariselda Bumajny (São Paulo, SP)

Renda mínima
``O professor José Márcio Camargo fez uma análise no mínimo controversa do Programa de Renda Mínima (PGRM) no seu artigo publicado em `Tendências/Debates', de 12/8. No exemplo que deu, poderia concluir de forma diversa. Nas atuais regras do mercado de trabalho, o trabalhador não têm como se defender de uma redução dos salários imposta pelo empregador. Se tiver o PGRM, o trabalhador poderá recusar ofertas salariais indecorosas, pois terá garantido um salário mínimo sem vender qualquer trabalho para o empregador. É óbvio que o salário de equilíbrio será maior com o PGRM. Formalmente trata-se de uma aplicação simples do conceito de barganha da teoria dos jogos. Se forem válidos seus argumentos quanto a falsificação da declaração de rendimentos, teríamos um enorme problema com o programa de Brasília, que ele afirma ser baseado nas suas idéias, pois aqueles com renda acima da faixa de corte de dois salários mínimos (aspecto omitido pelo autor) tenderiam a falsificar sua declaração para um valor menor que este último."
Samir Cury (Brasília, DF)

País corrupto
``Estou indignado com a imprensa do meu país. Aceitar que um organismo qualquer taxe o Brasil como o quinto país mais corrupto do mundo, generalizando, é o mesmo que dizer `os únicos honestos estão na política, polícia, Justiça etc.'. Vamos separar o joio do trigo, quem sabe esta noite vou dormir corrupto e acordar honesto."
Emerson Barreto (São Paulo, SP)

Previdência
``A respeito de projeto de lei em regime de urgência sobre a rolagem da dívida da Previdência, entendemos ser mais um atestado de que a Previdência pública é viável, sem bem-administrada. O governo federal sempre se apropriou do dinheiro da Previdência e nunca arcou com seu quinhão quando fazia parte do tripé que sustentava a Previdência (juntamente com empresas e empregados). É a chamada dívida histórica, sobre a qual não existe nenhum projeto para que seja resgatada. A tabela de atualização dos débitos para com a Previdência é altamente vantajosa para os devedores, pois os valores devidos até 1990, mesmo acrescidos de juros e multas, representam entre 24% e 77% dos mesmos valores se corrigidos pelo INPC. Na legislação previdenciária não está previsto o crime de sonegação. Esse projeto de lei é um incentivo tanto aos `sonegadores' quanto aos inadimplentes. Só uma lei complementar poderia restabelecer a contribuição sobre a remuneração de autônomos e empresários que deixou de ser recolhida desde maio/94."
Jairo Diniz Dantas, diretor do Sindicato dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias de São Paulo (São Paulo, SP)

``Com relação ao artigo `Entendimentos para a reforma da Previdência', veiculado no dia 9/8, cumpre-me prestar o devido esclarecimento dos fatos: com relação à expressão `trabalham e contribuem pouco e se aposentam cedo', impõe-se o esclarecimento de que os membros do Ministério Público, tanto quanto os do Poder Judiciário, vêem-se às voltas com desumano volume de trabalho. Os profissionais do Ministério Público não contribuem pouco, porém tanto ou mais que qualquer classe trabalhadora, pois a nenhum é concedida a possibilidade de aposentar-se antes de 30 anos de contribuições. No tocante à afirmativa de que os membros do Ministério Público ganham bem, é imperioso elucidar que, em virtude das próprias diferenças federativas, há os que ganham razoavelmente e os que têm vencimentos inferiores ao que merecem e à importância social de seu trabalho. Com relação à expressão `e se aposentam... e bem', aposentar-se bem deveria significar proventos semelhantes aos estipêndios da atividade para todo e qualquer trabalhador brasileiro, aliás, aspiração de todos eles e dever do Estado, meta para cuja prossecução o Ministério Público está disposto a contribuir."
José Emmanuel Burle Filho, procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Sugestões
``Sobre a discussão se deve ou não haver reeleição para presidente da República, gostaria de sugerir: mandato dos cargos do Poder Executivo (presidente, governador e prefeito) de quatro anos; que eles possam se reeleger; após a metade do mandato haveria um plebiscito, orientado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para saber se o povo apóia ou não o resto do mandato; caso o plebiscito venha a rejeitar a continuação, assumiria o vice e o recusado pelo voto teria cassados os seus direitos políticos por oito anos; para o plebiscito não poderia haver propaganda três meses antes e somente o TSE orientaria o eleitor; o plebiscito seria por maioria absoluta; votos nulos, brancos e ausentes somariam para a rejeição; e valeria para os mandatos em vigor a partir de janeiro de 1995."
William Betty (São Paulo, SP)

Ética didática
``Há dias tive o grande prazer e satisfação de ler um artigo do dr. Afiz Sadi a respeito da próstata. Somente um homem de seu tamanho e envergadura intelectual e moral consegue elaborar, de maneira simples e objetiva, um trabalho sobre assunto tão delicado e preocupante para o ser masculino. Explica como diagnosticar o estado de saúde da glândula próstata e sua terapia, quando necessário. Dá, em um só artigo, uma tremenda aula de medicina e uma `baita' aula de ética. Com esse curtíssimo artigo conseguiu derrubar um mito para o homem."
Ivódio Tessaroto (Boituva, SP)

Texto Anterior: Um tropeço do governo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.