São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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Rock and roll na economia

O Brasil é visto, com razão, como exemplo máximo de instabilidade monetária. Mas é importante não ser ingênuo nessa matéria. O percurso recente da economia norte-americana desafia as teorias e as previsões tanto ou mais que a ziguezagueante economia brasileira.
Os Estados Unidos registraram déficit comercial de US$ 11,3 bilhões no mês de junho, déficit 2,4% superior ao de maio. Mas a moeda desse país, cujas contas de comércio exterior são cronicamente deficitárias, passou, ao mesmo tempo, por uma estonteante valorização nos mercados globais, fortalecendo-se diante do marco e do iene.
Mas não é apenas a relação exótica entre déficit comercial e valorização cambial que intriga os observadores econômicos. A própria existência de um déficit persistente no comércio desafia as ``leis da gravidade" da economia.
Afinal, os EUA passaram por um desaquecimento e, na teoria, quando uma economia esfria o resultado é sempre uma queda nas importações e aumento nas exportações. Nos EUA, como ocorre a valorização da moeda, as importações caem, mas as exportações têm sofrido redução ainda maior.
O resultado é preocupante: o déficit acumulado durante os primeiros seis meses de 1995 já alcança US$ 188,3 bilhões e não dá sinais de estar em vias de redução.
Para países em desenvolvimento, como o Brasil, esses movimentos incongruentes podem ter efeitos bastante danosos. Exportando menos, os EUA tendem a aumentar suas pressões antiprotecionistas unilaterais, procurando reduzir o déficit por meio da abertura mais rápida dos mercados mundiais.
E o Brasil tem sido um alvo bastante frequente de críticas e ataques, estando na iminência de uma reprovação na Organização Mundial do Comércio por conta da política de cotas adotada depois da crise cambial do México.
E, com o dólar passando a valer mais, as exportações do Brasil perdem competitividade.
O dólar continua como a principal referência monetária global. Uma referência sólida como uma pedra, mas que pode oscilar, rolar e atropelar com o desleixo de um ``rock and roll".

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