São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 1995
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E o social?

VALDO CRUZ

É uma pena, mas o grande debate que se esperava do governo Fernando Henrique Cardoso ainda não aconteceu: como resgatar a dívida social brasileira, uma vergonha nacional.
Pior. O principal assunto do presidente FHC, no momento, é uma outra dívida, a de um banco baiano falido. Uma ``bagatela" de R$ 3 bilhões, dinheiro suficiente para construir nada menos do que 428 mil casas populares.
A semana passada foi um bom exemplo de como o social ainda não se tornou prioridade do governo tucano, ao contrário das promessas da campanha presidencial.
Enquanto Brasília assistia aos velhos baianos em busca do banco perdido, uma pesquisa da ONU (Organização das Nações Unidas) passou praticamente despercebida pelas autoridades da capital. Aquelas que adoram falar da miséria brasileira em ano eleitoral.
A pesquisa mostra que o Brasil ocupa apenas o 63º lugar no ranking dos países com melhor nível de desenvolvimento humano -baseado em indicadores econômicos e sociais, como expectativa de vida, nível educacional e poder de compra da população.
Outro dado preocupante. País mais rico da região, nada menos do que cinco vizinhos da América do Sul aparecem na lista em situação melhor do que a brasileira: Argentina, Uruguai, Chile, Venezuela e Colômbia, nesta sequência.
A desigualdade social dentro do Brasil também é destacada no documento. Se o país fosse apenas a região Sul, o Brasil estaria no cômodo 27º lugar. Mas, se fosse só o Nordeste, estaria entre a Bolívia e o Gabão, em 114º.
Esta não é uma realidade desconhecida dos tucanos. Tanto que o programa Comunidade Solidária foi criado para combatê-la. Até agora, porém, ele não tem feito muito mais do que distribuir cestas básicas.
É bom lembrar que o problema não é só do Palácio do Planalto. Os políticos da chamada base governista têm a sua parcela de culpa, nada pequena, ao se preocuparem mais com questões pessoais e regionais.
O mais desalentador de toda essa história é ver o apetite dos políticos tupiniquins na hora de brigar por um banco falido. Na defesa do brasileiro faminto não se vê tanto entusiasmo.

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